sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O MAIOR DE TODOS OS "MONTEIROS" ou EU SEM UMA PARTE


Como dizer “adeus” a quem tem uma importância ímpar em sua vida?
Como não roçar mais na sua barba ou dar tapinhas na sua grande barriga?
Como não ouvir mais a sua voz rouca?
Como ficarei sem seus conselhos sexuais?
Como voltarei a comer uma pizza sem pensar em você?

Foi com você que descobri minhas origens luso-italianas
Foi com você que descobri o orgulho de ser um “Monteiro”
Foi com você que apreendi a apreciar a boemia
Foi com você que aprendi a ser numismata

Sempre lembrarei de você me chamando de “Rafel
Sempre lembrarei dos seus sorrisos enquanto se gabava
Sempre lembrarei das suas histórias
Incontáveis, impagáveis, lendárias e mitológicas histórias
Sempre lembrarei da sua bronca por ter dormido na casa da namorada sem avisar
Sempre lembrarei dos papéis de bombom escondidos pela casa e dentro do cinzeiro

Como você sempre odiei médicos
Como você sempre odiei comprimidos
Como você sempre odiei receber ordens
Como você sempre gostei de bobagens
Como você sempre fui meio preguiçoso

Ah, Vô! Por que você tinha que ir embora?
Perdoe-me por não ser aquilo que você desejava que eu fosse
Perdoe-me por não ter treinado desde jovem e não ter ficado fortão
Perdoe-me por não ser um grande homem
Perdoe-me por não ter te visitado tanto
Perdoe-me por não ter ido ao último encontro de família por medo
Perdoe-me por não ter salvado você

Quantas coisas estão presas na garganta
Quantas lágrimas ainda em meus olhos
Quanta dor ainda no meu peito

Poxa, vô... Eu te pedi tanto.
Fui eu que estava do seu lado nas suas noites de insônia
Suas batidas na cama
Fui eu quem teve seu xixi no colchão na época da sonda anos atrás
Fui eu quem ouviu as melhores histórias da vida

Vô, foi dolorido alisar sua testa fria
Levar a ponta do seu caixão
Foi dolorido escrever seu nome e colocar data que o senhor nos privou da sua convivência
Pouco importava seu jeito mandão, todo cheio de si
Te amávamos mesmo assim
Catorze filhos choravam com muita dor
Abracei tios que nem conhecia
Consolei minha mãe como pude
Estive ao lado da minha avó como sempre

Vô, o senhor teve inúmeras mulheres
Nunca foi um marido fiel
Nunca foi um grande pai
Nem o mais presente dos avôs
Mas te amávamos enormemente

O senhor teve a mulher mais fiel
Teve o amor mais sincero
Mas a vida te deu o imediatismo da juventude
Nos enganamos
Você não era imortal
Depois de 70 anos ele tirou você da gente
Maldito cigarro!
Tirou meu avô de mim.

Não se preocupe vô
Tomarei conta do pessoal e nunca mais botarei seu assassino na minha boca
Já faz quase seis anos que não faço isso
Eu te prometo vô, não deixarei que ele faça mais alguém da nossa família sofrer
Nos protege daí e observa a agente

Vovô... É com muita dor que escrevo
Contarei sua história pra todos
Só os homens passam
Os heróis vivem para sempre

Eu te amo, meu velho!
Saudades desse seu neto... “Rafel


P.S. Guarda uma pittazinha pra mim quando a gente se encontrar. Deixa eu cumprir minha jornada. Até mais meu “véio”. Beijões. Todos que ficaram pra eu dar.



"Heroes living for ever"