terça-feira, 30 de outubro de 2012

TODO CARNAVAL TEM SEU FIM ou A INFINITUDE DA REFLEXÃO DE UM ROMÂNTICO NOIR



Quando despertei do coma auto-induzido, pude analisar com mais frieza os diferentes universos que presenciei com meus fechados olhos mortos.
Dizer que o mundo é feio e as pessoas mesquinhas, cruéis, desprezíveis e portadoras dos setenta vezes sete pecados capitais, é ainda mais inútil que as redes sociais que encontramos na internet.
Sempre acreditei que jogava bola no time dos mocinhos, que era o “good guy”, apenas mais uma vítima das perseguições de um ou outro algoz. Ledo engano! Sou o maior Lex de todos os Luthor, o inimigo que sempre evitei.
Em coma enxerguei o que os Românticos de Jena tentaram me explicar com seus pensamentos sobre os pensamentos que pensamos enquanto pensamos sobre o que pensamos quando nos pegamos a pensar sobre nós mesmos, levando-me a auto-reflexão infinita e necessária para a perfeita crítica compreensiva.
Tão complexa quanto a tese de doutorado do Walter Benjamin é a análise do próprio ego, tão putrefato e cheio de vermes que o velho Freud jamais ousaria pôr sua mão. A mão das leituras quiromânticas, a que se pede em casamentos, a que apertamos em momentos de confraternizações.
Despertado do coma, percebi que tantas máscaras recobrem meu rosto que sequer conheço a feição que me devolve o olhar quando escovo os dentes ou aparo os ralos pelos da minha barba.
Acho lamentável descobrir depois de vários anos de vil existência que todos que convivem comigo apenas vislumbram a interpretação caricata de um personagem circense desempenhado pelo dublê de um ator canastrão.
A mediocridade é tamanha que qualquer um que tenha o mínimo de bom-senso descobre logo a dramaticidade digna dos dramalhões mexicanos, onde Marias-Thalias tramam seus planos de vingança em reviravoltas de tragédias-trash das novelas vespertinas.
De volta do coma, vejo que inúmeros amigos que admirava e amava foram embora muito antes de um abraço de despedida, quiçá, talvez, um aceno discreto. Por que eles se foram?! Possivelmente pelo mesmo motivo que eu. Decepção, apatia, arrogância, vaidade, ego, insatisfação, ou mesmo uma fuga, uma saída pela tangente, à francesa. Afinal de contas, no fundo ninguém deve satisfação a ninguém e todo carnaval tem seu fim. Tudo é pesado. Paz não há, visto que a preocupação com o próprio gozo é a lei - de meninos a lobos.
Retornado do coma, não havia flores na alcova, nem esposa, nem amante, nem pais, nem filhos, apenas um espelho enorme emoldurado em madeira, onde se lia a gravação em latim nosce te ipsum, a pedra angular da filosofia de Sócrates, a tão falada Maiêutica, a verdade procurada no interior do homem.
E mais uma vez, como sempre, tudo retorna ao homem, ao EU, seja em Sócrates, sejam nos Românticos de Jena, seja no velho barbudo da psicanálise ou mesmo em mim, despertado do meu coma.

"Dessa vez eu já vesti minha armadura. E mesmo que nada funcione eu estarei de pé, de queixo erguido"