quinta-feira, 23 de maio de 2013

ERRANTE NAU ou ASTRO-LÁBIO





Perco-me em versos
em sorrisos
entre cabelos
pernas
pelos

Em seus desejos
quando me vejo
sem ideia
apenas sou

Simples cargueiro
em voltas
confuso
numa tempestade
a procura de um cais
porto
onde descansar possa

Inúmeras odisseias
Ulisses, eu?
Não há Helena
Ou certa decisão
Tudo confuso
Sem sentido
ação
Desejos-Otelo
Cruéis
Ficam
Vão

"Bicho de sete cabeças"

RESILIR-ME-EI ou PARA ECO E NARCISO





Fará falta
Como a noite
É tarde
Escuro
Fechado tempo
Ilhado em medo
Afundando

Alisando felinos
À espera de sorrisos
Um menino
Sua máscara V
Não crê no viu
Era vil
Sentimento
Dose única
Insólita viagem
Amor de passagem


Versos refeitos
em horas senhoras
procure apenas
no fundo
abissais territórios
Eco de um sorriso
reflexo do seu
Narciso
eu

"Tropeçava nos astros desastrada"

domingo, 12 de maio de 2013

NUNCA AOS DOMINGOS ou ROUBANDO WERTHER





Não!
Nunca aos domingos!
Mesmo quando chove e o corpo pede cama!
Mesmo quando o sol chama para dourar nossa pele!
Mesmo nos domingos de futebol!
Mesmo quando seu time ganha um título!
Mesmo quando seu time é tri-vice-campeão!
Mesmo quando amor e jogo duelam em um embate mortal!

Não!
Nunca aos domingos!

O que se passa na cabeça de uma pessoa inquieta?
Quais seus maiores medos?
O passado que não consegue nunca ser apagado?
O futuro inexistente e sempre incógnito?
Qual o seu maior desejo?
O esquecimento?

Lanço-me ao desconhecido e Werther me escreve minhas próprias angústias:

Eu quero, dileto amigo, eu te prometo que quero corrigir-me, nunca mais haverei de, como sempre fiz, beber até a última gota os males que o destino nos reserva. Quero gozar o presente e o passado será passado para mim. É claro, caríssimo, que tu tens razão. As dores dos homens seriam menos agudas se eles não... Deus sabe por que eles são feitos assim! Se ocupar com tanta assiduidade de fantasia, chamar a lembrança dos males passados, ao invés de tornar o presente suportável.

E é assim que me entorpeço de bebidas destiladas ou repletas de leveduras e cevadas, ou mesmo, algum alucinógeno que me leve a trilhar por tijolos amarelos atrás de desejos encantados. E de fato fazemo-nos do presente um regalo fascinante. Não obstante, e se num certo sábado, 16 de julho, nos vir à constatação tão tentadora.

Oh, como o sangue corre quente em minhas veias quando os meus dedos tocam os dela por acaso, quando os nossos pés se encontram debaixo da mesa! Puxo-os de volta como se tivesse tocado fogo, mas uma força secreta os atrai de novo... E meus sentidos se turvam tanto!
[...] Não sei jamais o que se passa comigo quando estou a seu lado; parece que a minha alma se revolve em todos os meus nervos.

Dois dias depois, uma segunda, 18 de julho, uma dúvida passa a incomodar de forma latente:

O que é o mundo para o nosso coração sem amor? O mesmo que uma lanterna mágica sem luz! Mal colocas dentro dela a lamparina e já se projetam imagens de coloridas na parede branca! E mesmo que todas não sejam mais do que efêmeros fantasmas, elas nos fazem felizes enquanto permanecemos ali, acordados, e como crianças nos extasiamos com suas aspirações maravilhosas.

Sorte 18 de julho ser segunda, pois, amor aos domingos é complexo, me falaria Werther.

Não!
Nunca aos domingos!

Talvez um beijo roubado na cozinha antes do café-da-manhã.
Um beijo rápido, acelerando batimentos cardíacos e nos fazendo suspirar.

É o máximo pra um domingo.

Olhar em seus olhos tímidos e sensuais a espera do porvir. E o porvir é um beijo, rápido, apaixonado, no qual as línguas se encontram a espera de compassar-se magicamente.

Não!
Nunca aos domingos!

Domingo eu quero ver o domingo acabar”

quarta-feira, 8 de maio de 2013

POETA-FILÓSOFO: DECIFRA-ME OU DEVORA-ME ou PORQUE AINDA SEI FALAR

Faz tempo que não escrevo muito. Logo, é um post pra quem curte Pensamentos Soltos de Uma Mente Noir.




Ideias me perturbam, pensamentos me incomodam, lembranças me consomem, desejos me entorpecem, sentimentos me limitam.
Como é natural, a cada dia ficamos mais velhos, e envelhecer é um processo arcaico. Em determinados momentos sentimos vergonha de nossas atitudes do passado, mesmo que o passado tenha ocorrido dez minutos atrás.
Como é sabido por todos que gastam seu tempo lendo o que escrevo neste humilde blog há quase cinco anos, sou um pensador do humano. O tipo que gosta do lugar-comum da ontologia e da metafísica.
Na vida real isso não serve para nada ou quase nada. Tal qual toda a filosofia e a poesia.
Fui professor dentre zil disciplinas, de filosofia e escrevo poesia (Quem não escreve hoje em dia? É só ver a enxurrada de blogs sobre isso) desde sempre. Logo, posso falar com o mínimo de conhecimento dessas áreas.
Sou historiador, pesquisador e faço mestrado em teoria literária, estudo a literatura e a loucura, e tenho como um dos autores analisados o escritor pernambucano Raimundo Carrero. Para Carrero construir uma obra poética é algo profundamente doloroso e inquietante. Ocupa uma vida inteira com marcas e cicatrizes. Nem sempre oferece um bom resultado, mas significa o sacrifício de uma existência. Não bastam apenas palavras, versos e rimas. Vai muito além, muito mais. É preciso fazer a alma sangrar. Significa entrar no abismo sem lanterna na mão. Nem uma só chama indica o caminho. Ouvem-se gemidos, sussurros e risos soltos, às vezes gargalhadas, muitas gargalhadas. O sentimento do humano dilacera mais do que redime.
De fato, eu não definiria melhor. Acredito que por isso eu escreva, seja romance, seja poesia. Estou longe de dizer que sou bom nisso. Muitas vezes ao reler o que escrevo, penso: “meu deus, que merda é essa que eu escrevi?”. O sentimento assemelha-se ao de uma pessoa ao reler seu diário de adolescente. São todos sentimentos dilacerantes, tanta dor por tão pouco, tanta felicidade por um olhar. Mas, como me fala Carrero, escrever é como cortar os pulsos com uma gilete e deixar o sangue escorrendo veloz, secando as veias.
Escrevo um monólogo-atentado-poético-filosófico desde 2006, chamado EU – A insustentável leveza de ser: VOCÊ. Acredito que ele nunca ficará pronto, pois é chato chegar a um objetivo num instante.
Em determinado ponto do livro questiono nossos possíveis incômodos.

Tantos neurônios, tantos pensamentos... Então, não queira.

“Toda dor brota do desejo de não querermos sentir dor”.

Incompreensão. Introspecção. Incompreensão.

Seria interessante tirarmos Zaratustra, Platão e todas as sombras de dentro da caverna.
Mas o que vem a ser a caverna?
Tem algo mais obscuro que sua própria mente?
Quantos universos cabem lá dentro?
Quantos seres a habitam?
Elfos, gnomos, doendes, sacis, wookis, hulks, x-man, super-man.
Super-homem?
O super-homem de Nietzche, meu pai, filho de Júlio César. Super-homem.

Como diria Raul: E as perguntas continuam. Sempre as mesmas. Quem eu sou? De onde venho? Aonde vou dar?

Hoje vejo que somos aquilo que falhamos em não ser. No entanto nos acostumamos a isso e em determinados momentos pegamos um heterônimo de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) e declamamos o Pecado Original, viajando no mundo que poderia ter sido.

“Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da Humanidade
O que há é só mundo verdadeiro, não é nós,
Só o mundo
O que não há somos nós, e toda a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!"

No romance histórico César de Allan Massie, há uma passagem na qual o personagem Cato diz que o grande filósofo é um covarde perante os duros imperativos da vida.
Hoje, eu, em minha precoce crise da meia idade, teimo em concordar com ele. No entanto, não existe tempo para muito, e, se a vida é feita de escolhas (sendo a própria escolha uma ilusão ou não), devemos escolher aquilo que nos permite um sono menos intranquilo.
Quanto à frustração, ela sempre existirá.

Quando tudo ainda é nada”

segunda-feira, 6 de maio de 2013

O PRAZER DA DOR ou DIÁLOGOS DO FIM



Os olhos que outrora via azul
Passou ao cinza
A luz que iluminava o caminho
Enfraqueceu

Numa auto-sabotagem eterna
A depressão alavanca a dor
O simples torna-se impossível
A vida diminui sentidos

O tempo tão escasso
Escapa em areias
O sangue esfria
Correndo em mortas veias

Tudo muda
Entre escolhas implausíveis
Errado e certo se confundem
O caos domina

Em seu casulo
A larva encolhe-se
Confortável zona
Amedronta ser mariposa

O mundo amplifica-se
Em decisões adiadas, evitadas

Bebe-se o mel
Acostuma-se papilas ao doce
Amarga vida
Molha-se o sorriso
Salgadas lágrimas

A enfermidade lateja
Quem me beija?

Não há romance
Capa, espada
Donzela em perigo
Herói ou bandido

Em castelos imaginários
Movediça areia
Árida terra
Quem me odeia?

Ancora-se
Culpam-se destinos
Astros
Sortilégios

O espelho carrasco sentencia
Minha tristeza, minha alegria
Flaubert a infelicidade alerta
Ela é cruel, esperta, vicia

Buscam-se muletas
Perde-se fé
Vira-se crente
Ama a própria dor-de-dente

Teme a idade
Perda da mocidade
Na aurora vê crepúsculo
O belo vira esdrúxulo

Nega-se a ação
Esquece a emoção
Num não sentir
Entrega-se a depressão

"Que prazer mais egoísta"