Ele
entrou no banheiro. Não sabia direito o que estava acontecendo com sua mente e
seus sentimentos. Estava apenas tomado por uma sensação que não compreendia
muito bem. Era uma mistura de angústia, dor, medo, pavor, insegurança, angustiosidade,
sem sequer saber se esta palavra existia. Se não, paciência. Viraria neologismo.
Ele
estava com angustiosidade.
Olhou
no espelho e tossiu uma tosse seca. O estômago começava a embrulhar. As dores tornavam-se
cada vez mais frequentes.
O que era isso? Meu deus, será que o fim está próximo? - como sempre, temeu.
Passou
as mãos pelo rosto. Sentiu vontade de chorar. Puxou os cabelos. Subitamente desejou incontrolavemente de extirpar-se de todos os seus pelos. Pegou uma
máquina e quis se raspar por completo. Começou pela sobrancelha. Ao ver que uma
já não mais existia sorriu um sorriso desesperado, admirado com o que tinha
feito. Viu-se horrível e imaginou o que os amigos diriam quando o visse. “Que
porra é essa, cara?”. Eles o tomariam como louco. Talvez fosse o melhor, assim
eles compreenderiam que algo não estava nada bem com ele. Quem sabe o ajudariam.
Não. Isso é impossível.
Ele
já andava confuso há milênios.
Meus deus, preciso de
um cigarro. Onde estão meus cigarros? – disse a si mesmo.
Mais
tosse, desespero e enfim um vômito de vazia barriga sujando toda a pia e o
espelho. O gosto amargo toma conta de sua garganta e sua boca. Seu nariz sujo
de vômito o incomoda. O cheiro nem tanto.
Bochecha
uma água qualquer, o gosto amargo ainda se faz presente. Assua o nariz e olha o
seu rosto. Estava sem uma sobrancelha. Estava horrível. Sorrio mais uma vez em
desespero, transparecendo o que sentia por dentro.
Caminhou
até a cozinha e pegou uma garrafa de whisky já meio vazia. Colocou em sua boca
e engoliu de uma só vez. Seu estômago queimava por completo.
Nada
está em ordem.
Viu-se
perdido em universos sem sentido. O que o levou até ali?
Tomou
conta da narrativa. Ele explicaria melhor.
Perco-me
em lembranças que desconheço. Seria o passado ou o futuro? Estou inseguro.
Medo, medo, medo e mais medo. Sou um garotinho assustado.
Nada
tem sentido.
Seria
o amor? O ciúme? Os demônios?
Confesso
meus pecados ao jovem Werther. Ele me aconselha uma única bala no peito. Seria
lindo. Não precisaria me preocupar. Faria uma carta e diria que morri por amor
e culparia Werther como autor intelectual. Nesse momento Hamlet me censura e manda-me
refletir.
Choro.
Um choro preso na garganta desde a infância. As lágrimas teimam em não cair. Ficam
presas. Deixam apenas meus olhos brilhando. Sinto o ardor. Sinto o nariz doer.
Não sei chorar.
Grito.
Estou enlouquecendo,
meu deus.
Um
estilete. Hamlet sempre falou da quietude de um simples estilete. Afinal,
estilete eu tenho, revólver não. Werther, esse suicídio você perdeu, ele é de
Hamlet.
Meu
deus, não. Não posso me matar.
Seria
encontrado sem sobrancelha. Tomar-me-iam como louco e suicida. E todos que
gostam de mim, como ficariam? Não! Não posso fazer isso. Preciso apenas de um
pouquinho de drogas. Um baseado, talvez. Meu corpo ficaria mais lento e minha
mente mais calma.
Senhor, e se eu
voltasse para a igreja?
Se
eu dissesse a Jesus – Pai, me perdoa.
Aprenderia
a chorar. Eu choraria muito e Ele compreenderia tudo que está em minha alma,
meus tormentos. Afinal, Ele sempre sabe de tudo. E não sou um mal sujeito.
Pronto!
Está
tudo resolvido.
Um
banho!
Preciso
de um banho. Tudo fica melhor depois de um banho.
Band-aid.
Um band-aid, por favor.
Saio
à rua.
De
bate-pronto encontro um conhecido.
Que porra é essa na tua
cara, velho?
Sorrio
e respondo:
Nem te conto. Fiz uma
aposta idiota e perdi minha sobrancelha numa partida de sinuca. Leseira do
caralho, não é?
Apenas
rimos.
Tudo
está bem.
"Não foi nada. Eu não fiz nada disso...Bicho de sete cabeças"