domingo, 13 de outubro de 2013

SOBRE LOUCOS ou TORTURAS ASTRAIS


Quis competir com as águas de Poseidon.
Tolo, idiota, mais uma vez humilhantemente perdi.
Não sem lutar. Lutei bravamente. Chorei as dores de outras encarnações.
Não eram apenas as minhas lágrimas que caiam. Eram as de Richard Blaine, de Otelo, de Hamlet, de Romeu, de Höderlin, de Werther... de todos.

Após ter sido acusado de todas as torturas possíveis, como Alexander DeLarge ou simplesmente Alex, fui forçado oniricamente a assistir todas as dores causadas por minhas atitudes e todas as dores as quais fui acometido.

Não era o tratamento Ludovico, era pior.

Os rostos que incriminavam, incitavam meu suicídio.
Com tom de desprezo, diziam: “Se mata! Vai! Se mata logo!”.
Como um oráculo, uma voz veio proferir: “Todos que você ama vão te trair. E você vai ferir todos que você ama. Nunca mais você terá paz. Pois, agora que já sabe, a insegurança tomará conta de seus dias. Você viverá com medo, sem saber o momento certo que os castelos de cartas cairão. Pois eles cairão.”.

Após mais uma noite em claro, ou perdido em sonhos lúcidos, levanto.
Ainda de olhos marejados e inchados pelo copioso choro, sou convocado pelo jovem Höderlin para um diálogo sobre Susette, seu grande e impossível amor, musa inspiradora de Diotima, protagonista do seu romance Hyperion. Ele me contara que Susette era casada com o banqueiro de Frankfurt, Jacó Gontard, seu aluno particular.
E como em todos os amores impossíveis, eles pararam de se ver e Höderlin cada vez mais se entregava a loucura. Susette morre dois anos após o último encontro de ambos. Höderlin tinha 32 anos. Já aos 35 ele tem sua insanidade diagnosticada. E por 36 anos, no alto de uma torre, às margens do rio Neckar, e longe do convívio social, Höderlin viveu interno até sua morte.

Vendo minha tristeza, o virginiano nascido num quatro de setembro, Antonin Artaud, tenta me consolar, levantando questionamentos e filosofando à lá Teatro da Crueldade. Ele olhou-me nos olhos e disse:

“E o que é um louco?
É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana.
Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos àqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se, porque se recusaram a serem cúmplices em algumas sujeiras.
Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.
Nesse caso, a reclusão não é a única arma e a conspiração dos homens tem outros meios para triunfar sobre as vontades que deseja esmagar.”

Na prisão sem grades vejo todas as vontades esmagadas, as certezas aniquiladas.
Um astro cai e o desejo some.
O pedido não veio à mente.

Malditos astros!!!

Tornam-nos lunáticos.
Nunca esperam o momento certo.

O resto vira sagrado, segredo. Uma lembrança lambida das putas tristes de Gabriel. Uma invenção, uma mentira de Manoel. Um devaneio, uma loucura de Rafael.

"Deixa eu chorar até cansar