Deixei de mão as idas à
psiquiatra. Tão pouco tenho tempo para entrar nessa casa suja e empoeirada.
Sinto falta do sol que entrava timidamente pelas frestas das persianas da minha
janela. Hoje, nem a fumaça do cigarro se apagando vem me visitar. Ela também
está ocupada demais para me dá o prazer de sua companhia.
Vivo entre as melancolias de Lars von Trier, de Foucault e as de Freud. Como
se tudo, inclusive a dor da solidão fosse uma obra de arte. Vale salientar que
qualquer interpretação pura e simples de uma obra de arte é limitar-se e
incorrer categoricamente no erro. Contudo, qualquer espectador ou apreciador,
independente de sua formação tem o poder de absorver a sua maneira tudo o que
foi observado e/ou contemplado. Possivelmente, a única pessoa capaz de
compreender os objetivos de uma obra artística seja seu próprio autor. Não
obstante, após tornar público, o criador não tem mais nenhuma posse sobre sua
criação. Logo, cada espectador, ouvinte ou leitor tem direito a uma
interpretação particular.
Hoje,
apenas melancolia. Surgida na psiquiatria com Pinel e Esquirol como um
delírio em torno de um único objeto. Um delírio empobrecido, de fala limitada,
que carrega uma lamentação e uma culpa muito profundas. Freudianamente falando,
Luto e melancolia, uma comparação constante entre a melancolia e o
processo de luto. Melancolia causada por uma perda de objeto, no meu caso, a
perda de um talento, o de escrever.
Por
isso, poesias curtas.
Simples
e singelas palavras.
Saudades?
Tenho
muita.
Sobretudo
do tempo em que cantava a Pedro as suas queixas da solidão, suas idas
cotidianas ao trabalho, suas dúvidas maniqueístas e seus choros no banheiro.
De
fato, amigo, a vida é
séria e a guerra é dura. Mas te digo, Pedro, o seu oposto.
Não cale a boca, entre na nau e
viva plenamente essa loucura.
Todos os caminhos são iguais,
eles levam à glória ou à perdição.
Há tantos caminhos, tantas
portas, mas somente um(a) tem coração.
É só Raul.
Porque eu...
Eu perdi as palavras.
Eu não tenho nada a dizer mesmo
sabendo que cada um de nós é um universo.
Num eterno retorno nietzschiano, tudo
acaba onde começou.
As
relações humanas, agora, sob a ótica do fim iminente e de como se comportar
diante dele, vira o foco. Medo, compaixão, desespero, proteção, conformismo,
fantasia, todas estas sensações estão representadas perante o inevitável, o
fim.
Se
Este é o mundo dos loucos (Le Roi de Coeur),
fico com a sabedoria que aprendi com eles, pois Para amar o mundo é preciso ficar longe
dele.
“Pedro... deves-me trinta... o diabo não é
tão feio assim como se pinta.”
Um comentário:
Muito bom, estava fazendo falta essa análise da realidade que só você sabe fazer e verbalizar.
*[Melancolia foi o primeiro filme de Lars Von Trier que eu vi. Ano passado no cinema da fundação. Depois que saí do cinema voltei pra casa correndo, não sabia o que fazer. Acho que naquele dia eu tomei consciência do quão frágil é a vida.]
Suas poesias são ótimas, mas acho que ainda não consigo ver tão bem as letras a ponto de saber apreciar direito suas "singelas palavras".
Grande Abraço, e obrigado pelas ótimas palavras.
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