quinta-feira, 19 de julho de 2012

ATRÁS DAS SOMBRAS ou UMA CANÇÃO PARA PEDRO


Deixei de mão as idas à psiquiatra. Tão pouco tenho tempo para entrar nessa casa suja e empoeirada. Sinto falta do sol que entrava timidamente pelas frestas das persianas da minha janela. Hoje, nem a fumaça do cigarro se apagando vem me visitar. Ela também está ocupada demais para me dá o prazer de sua companhia.

Vivo entre as melancolias de Lars von Trier, de Foucault e as de Freud. Como se tudo, inclusive a dor da solidão fosse uma obra de arte. Vale salientar que qualquer interpretação pura e simples de uma obra de arte é limitar-se e incorrer categoricamente no erro. Contudo, qualquer espectador ou apreciador, independente de sua formação tem o poder de absorver a sua maneira tudo o que foi observado e/ou contemplado. Possivelmente, a única pessoa capaz de compreender os objetivos de uma obra artística seja seu próprio autor. Não obstante, após tornar público, o criador não tem mais nenhuma posse sobre sua criação. Logo, cada espectador, ouvinte ou leitor tem direito a uma interpretação particular.

Hoje, apenas melancolia. Surgida na psiquiatria com Pinel e Esquirol como um delírio em torno de um único objeto. Um delírio empobrecido, de fala limitada, que carrega uma lamentação e uma culpa muito profundas. Freudianamente falando, Luto e melancolia, uma comparação constante entre a melancolia e o processo de luto. Melancolia causada por uma perda de objeto, no meu caso, a perda de um talento, o de escrever.

Por isso, poesias curtas.

Simples e singelas palavras.

Saudades?

Tenho muita.

Sobretudo do tempo em que cantava a Pedro as suas queixas da solidão, suas idas cotidianas ao trabalho, suas dúvidas maniqueístas e seus choros no banheiro.
De fato, amigo, a vida é séria e a guerra é dura. Mas te digo, Pedro, o seu oposto.

Não cale a boca, entre na nau e viva plenamente essa loucura.
Todos os caminhos são iguais, eles levam à glória ou à perdição.
Há tantos caminhos, tantas portas, mas somente um(a) tem coração.

É só Raul.

Porque eu...

Eu perdi as palavras.

Eu não tenho nada a dizer mesmo sabendo que cada um de nós é um universo.
Num eterno retorno nietzschiano, tudo acaba onde começou.

As relações humanas, agora, sob a ótica do fim iminente e de como se comportar diante dele, vira o foco. Medo, compaixão, desespero, proteção, conformismo, fantasia, todas estas sensações estão representadas perante o inevitável, o fim.

Se Este é o mundo dos loucos (Le Roi de Coeur), fico com a sabedoria que aprendi com eles, pois Para amar o mundo é preciso ficar longe dele.


Pedro... deves-me trinta... o diabo não é tão feio assim como se pinta.”

Um comentário:

Pedro disse...

Muito bom, estava fazendo falta essa análise da realidade que só você sabe fazer e verbalizar.

*[Melancolia foi o primeiro filme de Lars Von Trier que eu vi. Ano passado no cinema da fundação. Depois que saí do cinema voltei pra casa correndo, não sabia o que fazer. Acho que naquele dia eu tomei consciência do quão frágil é a vida.]

Suas poesias são ótimas, mas acho que ainda não consigo ver tão bem as letras a ponto de saber apreciar direito suas "singelas palavras".

Grande Abraço, e obrigado pelas ótimas palavras.