segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

SINTONIA ou SIN TON ÍA

Sin ton ía
mis versos del poeta
loco
cómo Leopoldo María Panero

Pasiones explícitas
en corte de fotos
un contorno del abismo

Fue cruel
una mentira fatal
hecho me enfermo
me mató

En versos
sangró mi pecho
peregrino corazón
anillo
sin dedo

sin ton 
ía

"un loco de ideas raras / muy original / eres sentimental"

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

NÃO! HÁ OBRA! ou TAMARINEIRA

Dedicado ao Doida de Pedra - projeto que está sendo desenvolvido em Recife/PE dentro do Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambucano (HUP)


Apenas loucos - chamava
Em vão - gritava
Clausuras na mente
Oh! Alienista doente!

De Hipócrates a hipócritas
Julgo de fantasias, lirismos
Anormais serventias
Tudo vão
Retiraram as estrelas
Deram-me o chão

Maria de França e Checov me acompanham
Aposentos e celas
Cavalos alados flutuam
em romances, novelas

Não há mais choques
Seria chique
A  não castrada dor
Ecoa ainda
Versos de Artaud

No eterno teatro da crueldade
Sou cavaleiro Quixote
Da maldade - combatente
Náufrago de uma nau errante
Um voz gritante - calada
Silenciada pela tortura
Sou mais Tamarineira
Sou mais Loucura

"Eu... aprendendo a ser louco"

domingo, 24 de novembro de 2013

ENTREVERDADES ou VOLTEI A CONTAR



Ele entrou no banheiro. Não sabia direito o que estava acontecendo com sua mente e seus sentimentos. Estava apenas tomado por uma sensação que não compreendia muito bem. Era uma mistura de angústia, dor, medo, pavor, insegurança, angustiosidade, sem sequer saber se esta palavra existia. Se não, paciência. Viraria neologismo.
Ele estava com angustiosidade.
Olhou no espelho e tossiu uma tosse seca. O estômago começava a embrulhar. As dores tornavam-se cada vez mais frequentes. 

O que era isso? Meu deus, será que o fim está próximo? - como sempre, temeu.

Passou as mãos pelo rosto. Sentiu vontade de chorar. Puxou os cabelos. Subitamente desejou incontrolavemente de extirpar-se de todos os seus pelos. Pegou uma máquina e quis se raspar por completo. Começou pela sobrancelha. Ao ver que uma já não mais existia sorriu um sorriso desesperado, admirado com o que tinha feito. Viu-se horrível e imaginou o que os amigos diriam quando o visse. “Que porra é essa, cara?”. Eles o tomariam como louco. Talvez fosse o melhor, assim eles compreenderiam que algo não estava nada bem com ele. Quem sabe o ajudariam. Não. Isso é impossível.
Ele já andava confuso há milênios.

Meus deus, preciso de um cigarro. Onde estão meus cigarros? – disse a si mesmo.

Mais tosse, desespero e enfim um vômito de vazia barriga sujando toda a pia e o espelho. O gosto amargo toma conta de sua garganta e sua boca. Seu nariz sujo de vômito o incomoda. O cheiro nem tanto.
Bochecha uma água qualquer, o gosto amargo ainda se faz presente. Assua o nariz e olha o seu rosto. Estava sem uma sobrancelha. Estava horrível. Sorrio mais uma vez em desespero, transparecendo o que sentia por dentro.
Caminhou até a cozinha e pegou uma garrafa de whisky já meio vazia. Colocou em sua boca e engoliu de uma só vez. Seu estômago queimava por completo.

Nada está em ordem.

Viu-se perdido em universos sem sentido. O que o levou até ali?

Tomou conta da narrativa. Ele explicaria melhor.

Perco-me em lembranças que desconheço. Seria o passado ou o futuro? Estou inseguro. Medo, medo, medo e mais medo. Sou um garotinho assustado.
Nada tem sentido.
Seria o amor? O ciúme? Os demônios?
Confesso meus pecados ao jovem Werther. Ele me aconselha uma única bala no peito. Seria lindo. Não precisaria me preocupar. Faria uma carta e diria que morri por amor e culparia Werther como autor intelectual. Nesse momento Hamlet me censura e manda-me refletir.
Choro. Um choro preso na garganta desde a infância. As lágrimas teimam em não cair. Ficam presas. Deixam apenas meus olhos brilhando. Sinto o ardor. Sinto o nariz doer. Não sei chorar.

Grito.

Estou enlouquecendo, meu deus.

Um estilete. Hamlet sempre falou da quietude de um simples estilete. Afinal, estilete eu tenho, revólver não. Werther, esse suicídio você perdeu, ele é de Hamlet.

Meu deus, não. Não posso me matar.

Seria encontrado sem sobrancelha. Tomar-me-iam como louco e suicida. E todos que gostam de mim, como ficariam? Não! Não posso fazer isso. Preciso apenas de um pouquinho de drogas. Um baseado, talvez. Meu corpo ficaria mais lento e minha mente mais calma.

Senhor, e se eu voltasse para a igreja?

Se eu dissesse a Jesus – Pai, me perdoa.

Aprenderia a chorar. Eu choraria muito e Ele compreenderia tudo que está em minha alma, meus tormentos. Afinal, Ele sempre sabe de tudo. E não sou um mal sujeito.

Pronto!

Está tudo resolvido.

Um banho!
Preciso de um banho. Tudo fica melhor depois de um banho.

Band-aid. Um band-aid, por favor.

Saio à rua.

De bate-pronto encontro um conhecido.

Que porra é essa na tua cara, velho?

Sorrio e respondo:

Nem te conto. Fiz uma aposta idiota e perdi minha sobrancelha numa partida de sinuca. Leseira do caralho, não é?

Apenas rimos.

Tudo está bem.

"Não foi nada. Eu não fiz nada disso...Bicho de sete cabeças"

domingo, 13 de outubro de 2013

SOBRE LOUCOS ou TORTURAS ASTRAIS


Quis competir com as águas de Poseidon.
Tolo, idiota, mais uma vez humilhantemente perdi.
Não sem lutar. Lutei bravamente. Chorei as dores de outras encarnações.
Não eram apenas as minhas lágrimas que caiam. Eram as de Richard Blaine, de Otelo, de Hamlet, de Romeu, de Höderlin, de Werther... de todos.

Após ter sido acusado de todas as torturas possíveis, como Alexander DeLarge ou simplesmente Alex, fui forçado oniricamente a assistir todas as dores causadas por minhas atitudes e todas as dores as quais fui acometido.

Não era o tratamento Ludovico, era pior.

Os rostos que incriminavam, incitavam meu suicídio.
Com tom de desprezo, diziam: “Se mata! Vai! Se mata logo!”.
Como um oráculo, uma voz veio proferir: “Todos que você ama vão te trair. E você vai ferir todos que você ama. Nunca mais você terá paz. Pois, agora que já sabe, a insegurança tomará conta de seus dias. Você viverá com medo, sem saber o momento certo que os castelos de cartas cairão. Pois eles cairão.”.

Após mais uma noite em claro, ou perdido em sonhos lúcidos, levanto.
Ainda de olhos marejados e inchados pelo copioso choro, sou convocado pelo jovem Höderlin para um diálogo sobre Susette, seu grande e impossível amor, musa inspiradora de Diotima, protagonista do seu romance Hyperion. Ele me contara que Susette era casada com o banqueiro de Frankfurt, Jacó Gontard, seu aluno particular.
E como em todos os amores impossíveis, eles pararam de se ver e Höderlin cada vez mais se entregava a loucura. Susette morre dois anos após o último encontro de ambos. Höderlin tinha 32 anos. Já aos 35 ele tem sua insanidade diagnosticada. E por 36 anos, no alto de uma torre, às margens do rio Neckar, e longe do convívio social, Höderlin viveu interno até sua morte.

Vendo minha tristeza, o virginiano nascido num quatro de setembro, Antonin Artaud, tenta me consolar, levantando questionamentos e filosofando à lá Teatro da Crueldade. Ele olhou-me nos olhos e disse:

“E o que é um louco?
É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada ideia superior de honra humana.
Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos àqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se, porque se recusaram a serem cúmplices em algumas sujeiras.
Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.
Nesse caso, a reclusão não é a única arma e a conspiração dos homens tem outros meios para triunfar sobre as vontades que deseja esmagar.”

Na prisão sem grades vejo todas as vontades esmagadas, as certezas aniquiladas.
Um astro cai e o desejo some.
O pedido não veio à mente.

Malditos astros!!!

Tornam-nos lunáticos.
Nunca esperam o momento certo.

O resto vira sagrado, segredo. Uma lembrança lambida das putas tristes de Gabriel. Uma invenção, uma mentira de Manoel. Um devaneio, uma loucura de Rafael.

"Deixa eu chorar até cansar

terça-feira, 13 de agosto de 2013

ENTRE O SILÊNCIO E O NADA ou UM MINUTO


Decepcionado com o sorriso de Erato
deixando sangrar
dilaceradamente
o peito da própria dor

Um céu vermelho
Uma garrafa verde
Um cigarro preto
Uma fumaça cinza

Lacrimejados olhos
Misturando cansaço e tristeza
numa mesa vazia
um faminto ventre

Bobo e crente
Carente
Cara valente
Simples gotas
acalmam
o coração, a mente

Transportando
Aspirando
Tudo
Unicamente

Olhos fechados
Pensamentos
Tudo caos – tormento
Uma atenção
Um momento

"Deixe que o tempo cure"

sábado, 10 de agosto de 2013

QUANDO OMBROS NÃO BASTAM ou É TER NA MENTE


Lamberei tuas lágrimas
até voltares a sorrir
Não me importam as cores
Negras ou vermelhas

Lamberei tuas lágrimas
até voltares a sorrir
Mesmo que seja tímido
Sorriso largo

Lamberei tuas lágrimas
até voltares a sorrir
Do contrário, entendo
É pena - morri

"Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento"

segunda-feira, 22 de julho de 2013

ENTRE FLOCOS DE ALGODÃO E A CÁPSULA ROSA ou O CURIOSO CASO DA EVOLUÇÃO FEMININA



Desde o Big Bang o universo passou por vários estágios de transformação e, para alguns, evolução. Contudo, tem outras correntes mais específicas que acreditam que tudo surgiu através de uma entidade superior, um deus único e criador. Teria sido assim com todas as espécies, incluindo a dos seres que dominam o planeta Terra, os homens e acima deles, as mulheres.

Por volta do século XIX depois de um homem que chamavam de Cristo, um terráqueo francês, Jean-Baptiste Lamarck, defendeu a teoria de que as características das espécies mudavam com o tempo. Nela, os órgãos que eram utilizados desenvolviam, enquanto os que não eram, atrofiavam. Esta é a Lei do uso e desuso dos órgãos.

Tempos depois, o britânico Charles Darwin estudou o comportamento de algumas espécies animais durante gerações. Observou que algumas espécies evoluíam de outras e que os animais mais preparados para enfrentar condições adversas sobreviviam e conseguiam passar suas características para os descendentes. Seu estudo ficou conhecido como a Lei de Seleção Natural.

Este tipo de pensamento possibilitou o Neodarwinismo, onde a evolução é o resultado de um conjunto de fatores que atuam na composição de uma população, entre esses fatures está a mutação.

Hoje em dia não se sabe direito em que acreditar, mas é possível que todas as teorias se condensem para que se compreenda a natureza fisiológica das fêmeas da humanidade.

Por séculos, os homens se questionaram sobre o que acontecia com os alimentos que não eram transformadas em energia no corpo das mulheres. É natural para todos os animais o ato de excretar os resíduos alimentares através de uma complexa cadeia digestiva.

Os homens não evoluíram tanto quanto as mulheres, pois eles têm gazes e fezes e necessitam de fugas repentinas para aliviar os movimentos peristálticos que dominam a região abdominal muitas vezes.

Já as mulheres, semideusas, talvez tenham perdido os órgãos residuais por não os utilizarem, algo que Lamark decantava em 1809, ano do nascimento de Darwin. Embora, não se pode descartar que em algum momento as mulheres tenham se relacionados com os antigos deuses gregos. Porém, as características evolutivas só teriam sido repassadas para outras mulheres. Ou mesmo que uma mutação genética tenha ocorrido em algum momento entre o ontem e o agora.

Hoje existem duas teorias em voga sobre o que pode acontecer com os excrementos femininos. Não se sabe se essas teorias se aplicam a todas as mulheres. Mas com certeza às mulheres bonitas, vaidosas, e que tem o signo de Leão em seu horóscopo. A primeira teoria é que enquanto elas utilizam os espaços reservados às necessidades fisiológicas, as mesmas expelem flocos de algodão, algo comprovado pelas Senhoras E. Veras e G. Vieira. Certa feita chegaram a produzir meio quilo de flocos de algodão cada uma. Algodão este transformado em caríssimos t-shirts da Colcci. A outra teoria, defendida pela Senhorita M. Pereira, é que enquanto as mulheres dormem o que não foi absorvido pelo corpo e transformado em energia, migraria de maneira autônoma para uma cápsula rosa. O conteúdo da referida cápsula rosa é amplamente utilizado nas festas raves como um alucinógeno afrodisíaco.

Certeza do que acontece plenamente nunca teremos. O que se sabe é que as mulheres são incapazes de passar por momentos de constrangimento com ruídos ou odores que incomodem ou poluam o meio ambiente. Em resumo: MULHERES NÃO CAGAM!


Amor, eu quero te ver cagar

quinta-feira, 23 de maio de 2013

ERRANTE NAU ou ASTRO-LÁBIO





Perco-me em versos
em sorrisos
entre cabelos
pernas
pelos

Em seus desejos
quando me vejo
sem ideia
apenas sou

Simples cargueiro
em voltas
confuso
numa tempestade
a procura de um cais
porto
onde descansar possa

Inúmeras odisseias
Ulisses, eu?
Não há Helena
Ou certa decisão
Tudo confuso
Sem sentido
ação
Desejos-Otelo
Cruéis
Ficam
Vão

"Bicho de sete cabeças"

RESILIR-ME-EI ou PARA ECO E NARCISO





Fará falta
Como a noite
É tarde
Escuro
Fechado tempo
Ilhado em medo
Afundando

Alisando felinos
À espera de sorrisos
Um menino
Sua máscara V
Não crê no viu
Era vil
Sentimento
Dose única
Insólita viagem
Amor de passagem


Versos refeitos
em horas senhoras
procure apenas
no fundo
abissais territórios
Eco de um sorriso
reflexo do seu
Narciso
eu

"Tropeçava nos astros desastrada"

domingo, 12 de maio de 2013

NUNCA AOS DOMINGOS ou ROUBANDO WERTHER





Não!
Nunca aos domingos!
Mesmo quando chove e o corpo pede cama!
Mesmo quando o sol chama para dourar nossa pele!
Mesmo nos domingos de futebol!
Mesmo quando seu time ganha um título!
Mesmo quando seu time é tri-vice-campeão!
Mesmo quando amor e jogo duelam em um embate mortal!

Não!
Nunca aos domingos!

O que se passa na cabeça de uma pessoa inquieta?
Quais seus maiores medos?
O passado que não consegue nunca ser apagado?
O futuro inexistente e sempre incógnito?
Qual o seu maior desejo?
O esquecimento?

Lanço-me ao desconhecido e Werther me escreve minhas próprias angústias:

Eu quero, dileto amigo, eu te prometo que quero corrigir-me, nunca mais haverei de, como sempre fiz, beber até a última gota os males que o destino nos reserva. Quero gozar o presente e o passado será passado para mim. É claro, caríssimo, que tu tens razão. As dores dos homens seriam menos agudas se eles não... Deus sabe por que eles são feitos assim! Se ocupar com tanta assiduidade de fantasia, chamar a lembrança dos males passados, ao invés de tornar o presente suportável.

E é assim que me entorpeço de bebidas destiladas ou repletas de leveduras e cevadas, ou mesmo, algum alucinógeno que me leve a trilhar por tijolos amarelos atrás de desejos encantados. E de fato fazemo-nos do presente um regalo fascinante. Não obstante, e se num certo sábado, 16 de julho, nos vir à constatação tão tentadora.

Oh, como o sangue corre quente em minhas veias quando os meus dedos tocam os dela por acaso, quando os nossos pés se encontram debaixo da mesa! Puxo-os de volta como se tivesse tocado fogo, mas uma força secreta os atrai de novo... E meus sentidos se turvam tanto!
[...] Não sei jamais o que se passa comigo quando estou a seu lado; parece que a minha alma se revolve em todos os meus nervos.

Dois dias depois, uma segunda, 18 de julho, uma dúvida passa a incomodar de forma latente:

O que é o mundo para o nosso coração sem amor? O mesmo que uma lanterna mágica sem luz! Mal colocas dentro dela a lamparina e já se projetam imagens de coloridas na parede branca! E mesmo que todas não sejam mais do que efêmeros fantasmas, elas nos fazem felizes enquanto permanecemos ali, acordados, e como crianças nos extasiamos com suas aspirações maravilhosas.

Sorte 18 de julho ser segunda, pois, amor aos domingos é complexo, me falaria Werther.

Não!
Nunca aos domingos!

Talvez um beijo roubado na cozinha antes do café-da-manhã.
Um beijo rápido, acelerando batimentos cardíacos e nos fazendo suspirar.

É o máximo pra um domingo.

Olhar em seus olhos tímidos e sensuais a espera do porvir. E o porvir é um beijo, rápido, apaixonado, no qual as línguas se encontram a espera de compassar-se magicamente.

Não!
Nunca aos domingos!

Domingo eu quero ver o domingo acabar”