quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A UNIÃO DAS TRÊS CORES ou SE NÃO FOSSE O ILUMINISMO

Início de conversa.

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Pois bem, como sou um entusiasta por novos conhecimentos, cada dia mais descubro que não conheço da missa a letra “m”, quanto mais um terço. Por puro preconceito parei de assistir filmes franceses e europeus de uma forma geral, salvo raras exceções.

Semana passada me rendi e fui assistir a Trilogia das Cores, seguindo a cronologia (Azul, Branco e Vermelho). Tanto no original em francês como em inglês os nomes dos filmes são Trilogia da Cores e sua respectiva cor (Bleau, Blanc e Rouge/ Blue, White e Red), mas como no Brasil tudo é diferente eles resolveram usar a filosofia iluminista da Revolução Francesa (Liberdade, igualdade e fraternidade). Logo, A Liberdade é Azul; A Igualdade é Branca; e, A Fraternidade é Vermelha.

No início achei o Azul meio sacal, mas foi melhorando e... piorando. Nunca fui fã de Juliette Binoche, sua beleza languida não faz meu estilo, mas o Concerto já vale o filme. Os outros dois filmes são mais amarradinhos, nos dando a sensação de como a vida é uma puta loucura e de como podemos agir de variadas formas pra enfrentar a mesma situação ou até mesmo como desenrolam certas situações na nossa vida.

 
Pra que vocês não fiquem tão curiosos, postarei abaixo um texto belamente escrito por Marcelo Costa em 1999 e publicado pelo site http://www.screamyell.com.br/ sobre o mote do filme e seu realizador, o polonês Krzystof Kieslowski.





Trilogia das Cores
de Krzystof Kieslowski

Por Marcelo Costa
1999


Talvez você, assim como muita gente, não goste do cinema europeu por achá-lo chato demais. E, na maioria das vezes é chato mesmo. Mas se toda regra tem uma exceção, Krzystof Kieslowski, cineasta polonês, é a exceção desse caso.

Kieslowski fez ao total 23 filmes, dentre os quais se destacam Amator (1979) - que conta a história de um cineasta abandonado pela mulher - e o Decálogo (1988 - feito para tv), dividido em dez partes contando cada uma, um mandamento bíblico. O destaque é o sexto mandamento, Não Amarás, que conta a história de um jovem ("Entre o amor platônico e a violência do desejo", conforme anuncia o cartaz...) que corta os pulsos ao ser rejeitado por uma mulher mais velha.

Mas sua obra-prima ainda estava por vir. Morando em Paris e desiludido com a política, Krzystof resolveu filmar as dores do mundo. A Trilogia das Cores, inspirada nas cores da bandeira francesa, e em seus significados, é um dos momentos mais poéticos do cinema nessa década.





Bleu, A Liberdade é Azul, (1993) é o primeiro e é um drama. Julie (a bela Juliette Binoche de O Paciente Inglês) perde o marido (famoso compositor) e a filha pequena em um acidente de carro. Tenta se matar mas não consegue pois se acha fraca para fazer isso. Fica só. E ser livre é, muitas vezes, difícil. Um flautista de rua lhe diz que é preciso se agarrar a algo mas ela já não quer mais nada pois bens, recordações, amigos, vínculos, são tudo armadilha. Gostaria mesmo é de pular no espaço, no céu azul, mas no fundo sabe que não se pode renunciar a tudo. Kieslowski transforma dor em sublimação. Bleu é um filme silencioso mas todos os sentimentos são para qualquer um tocar. Cada um é livre para fazer o que quiser embora a liberdade maior seja estar vivo. A fotografia é linda e a trilha sonora, do inseparável Zbigniew Preisner, sinfônica e imponente.



Blanc, A Igualdade é Branca, (1993) é o segundo e o mais perto que Kieslowski chega de uma comédia. Para Karol Karol (Zbigniew Zamachowski), estar vivo não é nada fácil. Polonês de Varsóvia, vai à Paris e é humilhado. Sua mulher, Dominique (a linda Julie Delpy de Antes do Amanhecer e Um Lobisomen Americano em Paris), pede o divorcio pois diz que Karol Karol não "consumou" o casamento (o que já é comédia demais, pois, imagina só, ser impotente com uma mulher linda como aquela, que ainda por cima, é francesa e lhe diz "se digo que te amo você não entende"!!! Ahh, é piada).
Em Paris tudo dá errado, desde seu cartão de crédito ser cancelado até ser alvo de um tiro certeiro de um pombo. Acaba sem dinheiro, sem passaporte e sem esposa. Consegue voltar para a Polônia dentro de uma mala, mas ao chegar lá, a mala é roubada (sujeito de sorte esse). Quando, enfim, consegue chegar a sua casa, está todo arrebentado. Volta a trabalhar normalmente e com o tempo arquiteta um plano para montar uma fortuna que o possibilite aplicar as mesmas peças na ex-esposa, afinal, a igualdade é branca, como um véu de noiva, como a neve, como pombos voando e como um orgasmo. Blanc é cômico mas não chega a ser uma comédia. Kieslowski fez um belo filme que, se não fica a altura de Bleu e Rouge, com certeza alegra coração e alma. A trilha de Preisner é pontuada por tons melancólicos extraídos de clarinete com suavidade e, ás vezes, silêncios. Ah, eu já ia me esquecendo. A profissão de Karol Karol no ínicio do filme era cabelereiro...



Rouge, A Fraternidade é Vermelha, (1994) é o terceiro e último e é simplesmente sublime. Parece mais uma poesia sem palavras amparada em uma fotografia magistral e no rosto de Irene Jacob (musa de Kieslowski que havia feito com ele, dois anos antes, o misterioso A Dupla Vida de Verónique) flutuando em tons vermelhos de carros, sinais fechados, bolas de boliche, outdoors, cerejas e sangue.
Irene é Valentine, modelo suíça vivendo em Paris, longe do namorado ciumento. Sua história é interligada a de um jovem que estuda para ser juiz. Certa noite, Valentine atropela uma cadela e ao leva-la ao endereço da coleira, conhece um estranho senhor que passa seus dias ouvindo ligações telefônicas dos vizinhos. Desse encontro surge uma amizade iniciada em repulsa mas que, aos poucos, modifica a vida dos dois personagens. Kieslowski brinca e se diverte com os acasos, com destinos marcados para se cruzar pois a inevitabilidade existe, embora cada um tenha que viver a sua própria vida. Para ele não é difícil adivinhar os caminhos da vida. Basta se comunicar. Olhar nos olhos.

Rouge é arrepiante e sua cena final, uma pequena surpresa, mas só para quem assistiu aos outros dois. Ravel passeia com seu Bolero em várias cenas e é a base da excelente trilha sonora de Preisner. Rouge transborda poesia e possibilidades, em silêncios comoventes, mesmo quando caí um cinzeiro, mesmo quando vidraças se quebram, mesmo quando um alarme de carro dispara. É tudo como se incendiássemos gelo. Água que escorre entre os dedos e deixa, por fim, as mãos molhadas...

Consagrado internacionalmente após a trilogia, em 1995, Kieslowski abandonou as câmeras por que disse que estava achando tudo muito chato e preferia viver ao invés de fazer cinema. E não fez mesmo. Não teve mais tempo. Morreu de enfarto, aos 55 anos, em março de 1996.
A Liberdade é Azul ganhou o Leão de Ouro em Veneza como melhor filme e melhor fotografia, tendo ainda Juliette Binoche como melhor atriz. Binoche também ganhou o Cesar que também foi concedido ao filme nas categorias melhor montagem e melhor som. Para fechar, três indicações ao Globo de Ouro: Melhor filme estrangeiro, melhor música e melhor atriz.
A Igualdade é Branca deu o Urso de Prata em Berlim para Kieslowski como melhor diretor.

A Fraternidade é Vermelha ganhou Cannes como melhor filme, o Cesar por melhor trilha sonora e foi indicado ao Globo de Ouro como melhor filme estrangeiro e ao Oscar como melhor direção, melhor roteiro e melhor fotografia.


"Vivendo e aprendendo a jogar"

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O QUE DEIXAMOS PRA TRÁS - PARTE 2 ou LEGENDA CAp - 8A

Ontem, eu estava feliz da vida conversando com a minha mulher sobre os meus (ex) alunos que passaram no vestibular e confidenciei a ela que sempre estive preparado para não ser lembrado por eles, visto que eles foram a minha (única) turma no Colégio de Aplicação, mas os mesmos tiveram inúmeros professores. Até entendo se eles se espantarem com o porquê de eu cumprir minha promessa de jamais esquecê-los, mas só eu sei o quanto eles foram importantes pra mim. Não foi minha primeira turma, como já relatei tempos atrás. Mas foi a mais especial. Voltei a ser um adolescente com eles, ao mesmo tempo em que o mestre deles, mantendo-me num patamar superior que os distanciavam um pouco.
Minha memória elefantástica se lembra de inúmeras situações e das particularidades da 8A de 2006 do CAp. Eram 30 alunos e posso falar da maioria com precisão cirúrgica. Mas é obvio que tem os que marcam mais. Não serei hipócrita.

Os 30 são:

Alisson Nunes Pereira
Anderson Alexandre Pires Cavalcante Bem
Aya Konno
Caio Vinícius Lins Azuirson
Danilo Neves Ribeiro
Diego Correia Aragão
Elton Ponce Vila Bela de Oliveira
Felipe Freitas de Alcântara
Fernanda Lima da Silva
Hugo de Moura Lima
Jéssica Laís de Oliveira Souza
Jéssica Lima de França
Joaline Ingracia Santos de Oliveira
Joanna Gabriela Vicente Silva
José Vinícius Gouveia
Juliana de Lira Rocha
Lucas Cesar de Albuquerque
Luciano Santiago Barbosa de Farias
Luiz Guilherme Matos Costas dos Santos
Marcos Paulo Barros Barreto
Maria Cláudia Cicalese Ralino
Pedro Rafael da Silva
Renan Fechine Brito Guimarães
Rodrigo Kühner Câmara dos Santos
Romero Fernando Almeida Barata De Morais
Thaysa Araujo de Lima
Thomás André da Silva Leal
Txai Almeida Ferraz
Victor Gomes Cardoso
Yndira Pessôa Rafael Teles

É!!!

Eu ainda guardo o parecer acadêmico de todos. Então, cuidado garotos, eu sei o passado de vocês.

Dentre as particularidades dessa turma posso citar o “Sexteto” (Jéssicas Ls, Joanna, Yndira, Claudinha e Thaysa). As Jéssicas eram como eu fui com meu xará no colégio também, Joanna era a pequena mexicana, Claudinha e Thaysa as fofas (como diz Vini – “isso é um elogio”) e Yndira a mais calada de todas.

Tinha o grupo do “essa eu levava pra casa” de tão meigas que são (Aya, Joaline e Juliana) e o grupo dos bad boys, é ululante (Caio, Elton, Luiz, Renan e Thomás). Mas, todos, gente boa.

Dentre os quietos e os que raramente iam a aula tem um monte, não é Lucas?
Mas muitos permanecerão amigos, fazendo Computação na UFPE (Danilo, Diego, Marcos Paulo e Romero).

Falando de amigos, tinha os que eu perturbava, era Felipe e sua barba e Luciano e seu cabelo grande, dois excelentes alunos.

Dos que eu aposto que serão legendas, falo dos amigos Vinicius, Txai e Fernanda. Pessoas quase inseparáveis. Quando eu crescer quero ser que nem eles. Os garotos foram pra Cinema e a pequena grande garota foi pra Engenharia.

Toda turma tem o seu cantor bonitão, o dessa era Hugo – o super-romântico. Estou errado, Hugo?

Minha turma era dotada de mentes brilhantes e grandes talentos, para não citar os que já citei, falo de Pedro Rafael (belo segundo nome por sinal), que era novato na época, mas já se mostrava em destaque.

Hoje vejo uma etapa concluída. Eles irão conquistar o mundo agora e descobrir os mais naturais conflitos que constituem a herança da carne. Infelizmente nem todos serão mais amigos. Isso é fato. Infelizmente é fato. Mesmo que no coração estejam sempre próximos, a limitante vida e o tempo escasso se encarregarão de levá-los para caminhos opostos. Falo pela minha experiência e pela de muitos que vieram antes e depois de mim.

É isso.

Amo cada um deles como parte de mim mesmo. Suas vitórias são as minhas. Seus fracassos também.

Essa era e sempre será a minha Oitava A. Mesmo que as memórias deles não tenham espaço pra mim. Hoje entendo os meus ex-professores e seus nostálgicos sentimentos.
Felicidades, amigos!


Sou eu que vou seguir você do primeiro rabisco até o bê-a-bá

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SOU FILHO DA CIÊNCIA, SOU CRIA DE CHICO ou APENAS MAIS UM HOMEM-CARANGUEJO, MAS CARANGUEJO COM CÉREBRO

Treze anos atrás morria um dos maiores gênios da música pernambucana e brasileira, Chico Science. Francisco de Assis França, do alto de seus 30 anos, perdia a vida num acidente fatal em pleno domingo. Recordo muito bem desse dia. Eu estava assistindo um filme na Band/Tribuna, era o Risco Fatal, do Stallone, quando num plantão anunciaram o falecimento de um dos meus ídolos. Como de costume, os bons morrem cedo.
Cresci. E comigo também cresceu o fascínio por todo o Manguebeat.
Ano passado tentei seleção de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPE com um projeto que abordava o Movimento Mangue como tema. Porém, eu desconhecia a fascinação de tantos futuros acadêmicos. Ignorância minha, admito. Existem aproximadamente uns 80 trabalhos sobre a referida temática. Por um lado isso é ótimo. Foi péssimo pra mim porque eu não estava inserido nos quesitos do ineditismo. Mas isso é a vida. Lamento, sobretudo, a parca divulgação (pra não dizer nenhuma) dos resultados obtidos com esses trabalhos.
Para o sociólogo e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Cláudio Morais de Souza:

O manguebeat enquanto fenômeno cultural é resultado da confluência de diversas experiências estéticas/sociais, de um grupo de jovens que através das músicas por eles produzidas começam a delinear uma nova situação (se não diferente), onde o campo artístico se mostra um terreno fértil na produção de uma atitude perceptiva, marcada por um lado, pela necessidade de conhecer o outro e experimentar o diferente, por outro, e ao mesmo tempo, conhecer-se e tornar-se conhecido como parte de uma sociedade marcada por um contexto urbano de forte exclusão social

O fato é que o “mundo” do manguebeat não consiste apenas de sons produzidos por uma determinada combinação de instrumentos tocados de uma forma característica, é a junção disso com a cultura ao redor, levando-se em conta todos os níveis de interpretação e heurística para a palavra “cultura”, da popular a de Raymond Willians. Sobretudo, se considerarmos o movimento mangue como elo de ligação responsável por unir elementos de manifestações (pós)modernas e globais a elementos da tradicional(ista) cultura popular pernambucana, transformando de forma categórica a realidade local e despertando a participação política da sociedade. Tal participação política é vista por alguns membros da imprensa como a força cultural responsável pela divulgação da política de “esquerda” (PT e PCdoB) que está no seu terceiro mandato consecutivo nas prefeituras de Recife e Olinda, berços do Manguebeat, assim como o Movimento Armorial era o divulgador cultural para o governo de “direita” anterior (PMDB / PSDB-DEM). Utilizando Feathestone para contextualizar o exposto:

Houve uma mudança mais geral na atitude dos governos nacionais e locais, fundações e corporações, que começaram a perceber as artes como algo socialmente útil. Em suma, o valor econômico do capital cultural aumentou; a partir da década de 60, os artistas deixaram de ser vistos como uma contracultura boêmia, incômoda e transgressora, passando a ser tratados pelos políticos, especuladores e planejadores urbanos como uma vanguarda diferente, que abriu caminho para o redesenvolvimento em larga escala de áreas urbanas baratas e decadentes, mediante a gentrification”.

O Movimento Mangue passa a existir num contexto caracterizado pela ofensiva econômica neoliberal que não contemplava as demandas sociais, abrindo espaço para o surgimento de movimentos de rebeldia e contestação. O Manguebeat vem para expor entre outras coisas a situação de exclusão social, violência e fome dos bairros de periferia de Recife através de sua arte. Utilizando expressões do historiador Eric J Hobsbawm:

A arte popular é mito e sonho, mas também é protesto, pois o comum das pessoas tem sempre alguma razão para protestar... A arte popular genuína, excepcionalmente vigorosa e resistente, realmente funciona e modifica o mundo moderno, e quais as suas conquistas e limitações”.

Contudo, como música e arte vivem da indústria cultural, o “mercado” vê na valorização do periférico, do exótico, do excêntrico, uma oportunidade de lucro. A indústria simplesmente descobre o mais lucrativo para processar e processa. É próprio da civilização uma busca de exotismos de todos os tipos. A cultura popular nos países urbanizados e industrializados há muito tempo consiste em entretenimento comercializado, padronizado e massificado, transmitido por meios de comunicação como imprensa, a televisão, o cinema, entre outros, produzindo o empobrecimento cultural e a passividade, bem como o consumo de cultura pré-fabricada. Contudo, este é um assunto que deve ser tratado com bastante delicadeza para evitar a utilização de paradigmas nacionalistas e muitas vezes preconceituosos e irresponsáveis.
Como o jornalista da Revista Continente Multicultural, Fábio Araújo, falou uma vez:

O fenômeno é recente demais para que se façam análises definitivas. Mas, além de devolver Pernambuco ao centro das atenções, resgatar a auto-estima da população e estimular um renascimento cultural que repercutiu em todo o país, o Manguebit deixou pelo menos outro legado: uma série de estudos acadêmicos, que procuram entender o que aconteceu e situar o movimento nos contextos nacional e internacional.” 

Possivelmente nunca se esgotarão as interpretações e as análises de uma temática tão rica quanto à do “movimento cultural” desenvolvido no Recife durante a década de 1990. Tal qual a Bossa Nova e a Tropicália o Manguebeat foi amplamente estudado, haja vista o número elevado de trabalhos acadêmicos sobre o tema nos últimos dez anos.
Embora o pensamento de Hobsbawm exposto a seguir tenha sido divulgado há 50 anos e relaciona-se ao Jazz norte-americano, nenhum pernambucano do final do século XX ficaria surpreso caso se deparasse com o seguinte argumento:

Nossos dias e nossa cultura são carentes de transfusões de sangue periódicas, para rejuvenescer a cansada e exaurida ou enxágue arte de classe média, ou a arte popular, que tem sua vitalidade drenada pela degeneração comercial sistemática e pela superexploração”. 

Como é sabido, o Recife e até mesmo o Brasil estavam carentes de algo que os tirassem da inércia, e tudo que os jovens do mangue desejavam eram ação. Com isso a idéia de ‘movimento’ pode ser utilizada para representar o fim de uma inércia na música recifense. E não a de “movimento” como o rock, por exemplo, com raízes e seguidores em todo o mundo e há muitos anos.
O manguebeat já foi estudado como um movimento híbrido, pós-moderno, globalizado, mundializado e dono de uma antropofagia particular, sendo esta mais específica, bem mais cosmopolita e resultado dessa tensão cultural facilitada pelo acesso à informação e às novas tecnologias, embaladas pela cultura midiática.
Essa gênese cultural do manguebeat pode ser encarada como a nítida expressão da cultura pós-moderna, haja vista o pós-modernismo ser a nova fase na cultura ocidental em decorrência da falência do Moderno, dessa forma o comportamento e a produção cultural pós-moderna revela-se como um novo patamar em relação ao racionalismo moderno. Logo, a cultura e o pensamento pós-moderno encorajam a intuição, a emoção e a diversidade, e a pós-modernidade se caracteriza pela busca pelo prazer momentâneo, rejeitando o padrão de verdade universal.

Todo a essência pós-moderna é viva em Chico. Muiito embora eu acredite que Chico nunca imaginou que sua obra fosse tão grande. Mas como ele falou certa vez: 

"Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente/ sem que sejam forjados para acontecer/ deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes lentamente/ deixai que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes /como móveis inofensivos/ para lhe servir quando for preciso e nunca lhe causar danos/ sejam eles morais, fisicos ou psicologicos"


Citações:

MORAIS DE SOUZA, Cláudio. Da Lama ao caos: Diversidade, diferença e identidade cultural na cena Mangue do Recife. En publicacion: Informe final del concurso: Culturas e identidades en América Latina y el Caribe. Programa Regional de Becas CLACSO, Buenos Aires, Argentina. 2001.
  
HOBSBAWN, Eric J. História Social do Jazz. Trad. Ângela Noronha. 6ª Edição Revista e Ilustrada. São Paulo: Paz e Terra, 2009. pp 42
ARAÚJO, Fabio. Os observadores da lama e do caos.   
HOBSBAWN, Eric J. op cit. pp. 33

LEÃO, A. C. C. A maravilha mutante: batuque, sampler e pop no recife dos anos 90. Dissertação de Mestrado em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco, sob a orientação da Profa. Dra. Ângela Prysthon. Recife, 2002.



"Se o asfalto é meu amigo eu caminho como aquele grupo de caranguejos ouvindo a música dos trovões!"