domingo, 5 de julho de 2009

MUITO MAIS QUE AMIGOS ou APRENDENDO

Para Pretinha e todos os meus amigos que sentiram as dores que senti (Flávio, Batista, Adriana e Raquel).


Como as fotos de Pepê ficaram no outro PC. Não colocarei uma dela.

Relutei muito antes de escrever sobre isso. Achei que ontem era o momento certo. Depois de assistir "Marley e eu". Não é fácil. Mas o cara durão já chorou bastante ontem. Logo, acho que hoje tenho estrutura para escrever.
Perdi o ser que foi minha melhor amiga durante muitos anos no dia 16 de fevereiro deste ano. Depois de 11 anos ela foi embora. Infelizmente eu não estava lá para me despedir. Acenei meu último tchau e enviei meu último beijo dois dias antes dela partir. Não imaginava que não a veria mais depois daquilo. Mas a vida não é fácil.
Lembro da primeira vez que a vi. Ela era pequenininha e bem magrinha, andava quase se arrastando de tão fraquinha. Tinha uma criança da rua (um vizinho) que chegou inclusive a andar com ela numa gaiola de passarinhos. Logo ela passou a frequentar a frente da minha casa, lhe oferecemos comida e ela sem pedir licença foi se apossando das nossas vidas.
Não lembro claramente o dia e o mês. Mas lembro da primeira refeição dela dada por nós. Era resto de comida mesmo, mas depois do whyskas tudo mudou. Ela ficou totalmente viciada.
Permitam-me apresentá-la formalmente. Ela era uma gata. Uma gata preta. Seu nome era Preta Maria Monteiro Pessoa. Também conhecida como Pretinha, e, como meu pai dizia, vulgo, Pepê. A minha nêga era diferente de todos os outros gatos. Ela era muda, porém, não surda. Ela não miava, era cangula, ou seja, tinha os dentes grandes e sua língua ficava pra fora como se ela fosse um cachorro, babava muito também. Na realidade Preta tinha alguns complexos. Ela acreditava que era um cachorro. Acho que foi pelo fato de dizermos várias vezes enquanto brigávamos com ela: “saia daí sua cachorra safada” ou “Preta, tu és uma cachorra mesmo”. Ela então incorporou e vestiu a carapuça. O fato é que Pretinha era especial e diferente de todos os outros gatos do mundo. Quem a conheceu sabe que não estou mentindo.
Quando Preta chegou lá em casa eu tinha 16 anos e estava estudando sobre bruxaria e ciências ocultas. Preta era minha melhor colega de classe. Todo bruxo que se preze tem seu gato preto e eu tinha o meu, no caso, a minha. Foi ao lado dela que vivi algumas das experiências mais extraordinárias do mundo. Vi muita coisa, mas isso é outra história. Também foi ao lado de Pepê que aprendi a tocar violão. Lembro que fiz uma versão de “no woman, no cry” do Bob Marley para Preta. Era mais ou menos assim.
Ainda me lembro / quando chegasse aqui / era só o coro e o osso / comia tudo / pedra e caco de pau / hoje hoje tu só quer filé / hoje hoje tu só quer filé / hoje hoje tu só quer filé / hoje hoje tu só quer filé / Não, não arranhe mais / Não, não arranhe mais / Não Pretinha, não arranhe não
Bem, escrevendo fica difícil de visualizar as coisas. Esse momento fica como sendo só meu e dela. Ela deve lembrar. Como diria minha irmã, ela tá no céu dos gatinhos agora, haja vista a missão dela já ter se cumprido aqui na Terra. Ela fez um garoto muito feliz durante muito tempo. Inclusive quando ele tinha apenas ela de amiga de verdade.

Talvez eu não tenha sido um bom amigo (Nunca utilizarei a palavra dono. Existe amor entre o homem e seu bichinho e não posse). Afinal de contas ainda estou aprendendo a amar. E na aprendizagem do amor Preta também foi minha companheira. Passei incontáveis horas no telefone conversando com Glena (hoje minha mulher) e alisando Pretinha, confidenciando a ela meus desejos e temores e perguntando: “E aí Preta, o que é que tu acha?”. Mas ela na maioria das vezes preferia ficar deitada e balançando seu rabo a esboçar qualquer opinião.
Preta teve duas crias. Na primeira vez vieram dois gatinhos e na segunda vez vieram três. Pretinha sofreu muito no parto. Foi a primeira vez que a ouvimos miar, logo, Pretinha não era muda, só preferia o silêncio. Ela tinha sofisticação, abria a boca e já entendíamos o que ela queria. Demos injeção nela pra que ela não tivesse mais filhotes, mas infelizmente ela desenvolveu um tumor e teve que passar por uma cirurgia. Foi horrível, um duro tratamento, mas ela ficou ótima. E depois disso não teve mais filhotes. Ela sofreu com uma pneumonia também. Mas também venceu essa batalha, graças principalmente a minha mãe.
Pretinha era fã de miolo de pão. Sempre pedia a gente quando nos via comendo. Ela colocava a sua patinha em nossas pernas e nos pedia. Já sabíamos o que ela queria. Mas o whyskas ainda era sua comida preferida, seja a ração normal ou a lata. Nos últimos 4 anos ela passou a não comer a ração sólida, havia perdido alguns dentes e não mastigava direito, além do mais seus dentes não se encaixavam perfeitamente. Passamos a misturar whyskas em lata com carne moída e no último ano ela ficou só com a carne moída.
Preta sempre teve muita energia, corria pela casa toda e adorava ficar nos lugares mais impróprios como na cama dos meus pais, em cima do guarda-roupa, da televisão, do som, do computador, do carro (às vezes embaixo do carro, para nos dar mais trabalho). Algumas vezes ela sumia. Já passei muitas horas sofrendo por causa dela, mas, felizmente ela sempre aparecia. Preta contrariou muita gente e como uma gatinha-amiga se mudou conosco três vezes, inclusive para minha casa quando eu me casei. Preta teve alguns problemas com Glena. Mas sei que se amavam. Contudo, Pretinha não era tão feliz na minha casa e num determinado momento voltou a morar com meus pais, onde ficou para sempre. Meu pai foi o melhor pai do mundo para Pepê, muito melhor do que eu podia ter sido. E foi justamente ele quem a encontrou sem vida na manhã do dia 16 de fevereiro deste ano. Ela não respondeu ao seu chamado e nem acordou para tomar seu café. Sei que não deve ter sido fácil para ele. Ninguém estava com coragem de me contar sobre o que havia acontecido. Na noite daquela segunda-feira eu soube de tudo. Meu chão sumiu. Fazia apenas cinco dias que eu tinha enterrado o meu herói, meu mentor, o meu vozão. Eu já estava sofrendo muito por isso. Mas infelizmente tive outra queda. É claro que perder um animal de estimação não é a mesma coisa que perder um avô, mas acontece que eu perdi os dois em menos de sete dias.
Bem... É a vida. Existindo um Deus ou não, toda vida um dia se vai. Porém, o amor é algo que é eterno. Sobretudo o amor de uma pessoa e seu melhor amigo(a), seja ele quem for.
Nunca te esquecerei Pepê. Sei que não fui perfeito pra você, mas você foi perfeita pra mim.
Te amarei sempre. Sinto muito a sua falta. Te amo. Esteja você onde estiver, te amo.
Obrigado por você ter entrado na minha vida.



Um dia amiga, a gente vai se encontrar

Um comentário:

Unknown disse...

Como sempre estou eu aqui pra comentar mais um post seu, imagino a dor que sentiu, ja tive um amiguinho meu e ele morreu atropelado, mas isso é outra historia. Ela te amou muito, tenho certeza, mas sei que ela foi mais feliz na casa dos seus pais, ela teve um pai lá e sei que adorou ser sua irmã, ela adorava te ver e quando vc brincava com ela. Ela sempre vai ficar guardada em nossos corações, eu sempre tive muito carinho por ela e sei que ela deve ter sentido isso, apesar de eu falar dela, no fundo era só pra aperriar mesmo. Te amo!!!!