sábado, 24 de setembro de 2011

A LETRA V TEM MEU NOME ou APENAS NÃO NA MESMA TECLA


Constantemente me pego a refletir sobre a vida, sobre a humanidade e os mais naturais conflitos que constituem a essência do homem.
Sou natural e habitante de um país de belezas naturais, de grandeza ímpar. Como ímpar também são os seus problemas de infraestrutura e contrastes sociais.
Felizmente fui um favorecido entre condenados e excluídos. Tive acesso às melhores escolas particulares de meu estado, assim como fui discente de uma universidade pública federal. Escolhi uma profissão sem nenhum glamour. Uma profissão que está a anos-luz de me dar status social e rendimento financeiro semelhante ao dos meus ex-colegas de tempos de escola. Sendo sincero, isso pouco me importa. Sou um dos loucos utópicos que acreditam que a base de qualquer transformação humana parte pela educação e sinto que tenho o dever de retribuir todas as benesses que recebi na vida. Embora não seja mais partidário de qualquer corrente política, assim como não ostento medalhas e bíblias, faço minha parte para transformar o estado, o país e o planeta em que vivo.
Não sou inocente a ponto de me contentar com fábulas de incêndios e beija-flores, trabalho com afinco, pois em minha profissão preparo pessoas para a vida. Não me contento em apagar o fogo com gotas d’água, resgato histórias, salvo pessoas, acreditando que entre o mar de afogados alguém viverá uma vida plena.
Lamento profundamente quando sei que entre meus colegas de profissão existe tanto mau-caratismo, tanta falsidade, tanta falta de humanidade. Será de verdade que essas pessoas sabem o que vem a ser EDUCAÇÃO?
Entre inúmeros conceitos posso dizer que, EDUCAÇÃO - 'educar' vem do latim "educare", por sua vez ligado a "educere", verbo composto do prefixo "ex" (fora) + "ducere" (conduzir, levar), e significa literalmente 'conduzir para fora', ou seja, preparar o indivíduo para o mundo.
Carlos Brandão, em seu livro “O que é Educação” (BRANDÃO. Carlos R. O que é educação, 33ª Ed. Brasiliense, São Paulo. 1995), nos diz que a educação está em todos os lugares e no ensino de todos os saberes. Assim, não existe modelo de educação, a escola não é o único lugar onde ela ocorre e nem muito menos o professor é seu único agente. Existem inúmeras educações e cada uma atende a sociedade em que ocorre, pois é a forma de reprodução dos saberes que compõe uma cultura, portanto, a educação de uma sociedade tem identidade própria.
O ponto fraco da educação está nos seus agentes, pois, com consciência ou não, reproduzem ideologias que atendem a grupos isolados da sociedade. Aí se vê que a educação reflete a sociedade em que ocorre, em sociedades tribais ela é comunitária e igualitária, já em nossa sociedade capitalista: específica, isolada e desigual.  
É incrível como ainda hoje, no universo contemporâneo, onde conceitos sobre pós-modernidade já são até piegas, existam pessoas que definam padrões e perfis sobre o que vem a ser um professor.
Acho lamentável que entre profissionais ligados a uma das mais nobres (humanisticamente falando) profissões exista espaço para desrespeito e falta de... EDUCAÇÃO.
Do alto dos meus parcos trinta anos venho acumulando experiência e admiração entre alunos e amigos e não aceito ser refém de um sistema caduco, como caducos são seus defensores. Leciono para um grupo de estudantes extremamente complexo, onde muitos com minha formação jamais aceitariam, sobretudo pela remuneração. Contudo, estou longe de querer cair no lugar-comum de críticas à má remuneração dos professores públicos, bem como não quero fazer uma dissertação sobre a larga violência a que estão sujeitos os profissionais da educação. Estou fazendo uma reflexão, criticando a minha própria classe, pois se os educadores não forem íntegros o suficiente, suas palavras tão doutas e eruditas jamais passarão de vaniloquências.
Independente se estou dando aula em uma das melhores instituições do Brasil ou numa onde os alunos sequer sabem assinar seus nomes; independente se estou sendo fartamente remunerado ou se estou literalmente dando aula, trabalho com a mesma dedicação, e, naturalmente sendo vítima, como todos os humanos, às doenças e contratempos da vida.
Sempre em minha primeira aula gosto de frisar que não sou apenas um professor, SOU UM EDUCADOR, não um socializador de conhecimentos, muitas vezes inúteis para a vida real, servindo apenas como um tijolo dos engessados perfis curriculares.
Atualmente tenho trabalhado com um livro que em suas lições iniciais tem como título a expressão “Você sabe com quem está falando?”. Tomo emprestado essa máxima e pergunto a todos os críticos que acumulei (falo em primeira pessoa, mas também em nome de um séquito de silenciados) – VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?
Minha pergunta está extremamente distante de ser arrogante, haja vista ela não ter nenhuma conotação ao poder, seja ele físico, econômico, social ou político. É apenas pra falar que antes de encherem a boca pra fazerem críticas desconstrutivas ou até mesmo gastar o tão limitado tempo com (pasmem!) fofocas, vale à pena conhecer um pouco quem são as pessoas as quais se critica.
Mais uma vez lanço mão dos títulos de uma das lições do livro que é adotado no programa o qual sou docente e inquiro – “ASSINO OU NÃO ASSINO?”
É insofismável que assinarei, pois nunca decepcionaria as pessoas que aprenderam comigo que apenas as pessoas morrem, mas as ideias são imortais. E que enquanto pessoas como eu ainda não tiverem jogado a toalha, a luta não acabou. E eu, como um lutador Rocky, grito aos meus adversários e juízes – MAIS UM ROUND.
José Rafael Monteiro Pessoa

"Minha dor é perceber Que apesar de termos Feito tudo o que fizemos Ainda somos os mesmos E vivemos... Como os nossos pais..."

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