Pra muita gente existem verdades incontestáveis, argumentos
de outrem que servem para justificar uma pseudo-intelectualidade. Conheci e
conheço muitos destes que gostam de transparecer ciências de orelha de livro.
Livros que sequer leram de verdade.
Sou leitor e sempre fui. Recebi muita influência de tudo que
li. Contudo, muito da minha extensão intelectual e questionadora veio da
música. Principalmente das letras de Raul Seixas, algo que ouvia desde muito
criança.
Por volta dos meus 15 anos li uma biografia de Raul e soube
da importância de Paulo Coelho para suas músicas. Posteriormente fui atrás de
alguns livros deste cara. Na época eu não observava a falta de profundidade das
temáticas e muito menos os possíveis erros de erudição gramatical do escritor.
Eu gostava mesmo era das mensagens que o livro me passava. Seria autoajuda?
Pode ser.
Com 17 anos eu adentrei no universo das ciências ocultas.
Vivíamos a terceira maior onda ocultista da história. E Paulo Coelho foi
visionário, pois no Brasil ninguém fazia livros desta linha. Há quem diga que
muitos dos livros deste autor são plágios de autores desconhecidos de várias
partes do mundo. Prática recorrente em todo o planeta. É ululante que isso não
é louvável.
O fato de ter lido os livros do “Mago” não me fizeram nenhum
idiota. Com 15 anos eu já tinha lido vários livros de Shakespeare, Oscar Wilde,
George Orwell, além de clássicos da literatura nacional. No entanto, ao entrar
no curso de História de uma Universidade Federal, que até então tinha
prestígio, era blasfêmia dizer que lia Paulo Coelho. E por idiotas fui tachado.
Sendo sincero tenho pena destes seres que são mais rasos que qualquer livro que
Paulo Coelho tenha escrito.
Eu li Dostoievski, James Joyce, Baudelaire, Maiakovski,
Saramago, Kafka, Cervantes, Moore, Neruda, Fernando Pessoa, Asimov, Aldous
Huxley e uma infinidade de escritores, filósofos e teóricos, mas nem por isso
critico Paulo Coelho. Quer o motivo? Ele conseguiu enriquecer através da
literatura, conseguiu ser respeitado no mundo inteiro como escritor. Se ele é
bom ou ruim não sou eu quem vai julgar. Não sou crítico literário, embora faço
mestrado em Teoria da Literatura, tenho pós-graduação em Cultura e sou graduado em História. Mas nada
disso fez meu pau ficar maior ou mesmo me tornar um homem financeiramente rico.
O fato de eu assistir filmes densos e tensos não me impede
de assistir um desenho animado muito bobo como Bob Esponja. Não emburreço por isso. Não corro o mesmo
risco de seres facilmente influenciáveis. Agora, se você me questionar os
despautérios que Paulo Coelho fala em entrevistas, sua arrogância e pedantismo,
pra mim isso é problema dele. Pelé não deixa de ser Pelé quando é Edson Arantes
do Nascimento. Não estou querendo comparar Jesus com Zé Buchudo. Mas
convenhamos, que escritor não gostaria de ter o sucesso do ex-parceiro de Raul?
Eu não sei se as pessoas que se
lembram de mim por ter defendido o velho Coelho no primeiro período do curso de
História sabem que Luiz Costa Lima nos
diz que enquanto o romance tradicional o enfoque era o convencimento, visto
que o narrador tentava envolver o leitor de modo que ele acreditasse na sua
narrativa, o narrador, portanto, era quem conduzia o leitor para o interior da
história narrada com seus fatos e personagens; a narrativa contemporânea é
exposta nas entrelinhas, na ironia, na construção do texto, pelo entrecruzar do
enunciado e da enunciação que se nota a veracidade dos fatos, muitas vezes,
manipulado pelo narrador como nos romances românticos. Logo, o leitor exerce um
papel ativo, participando da construção do sentido ao duvidar do que está sendo
narrado ou mesmo embarcar dialogicamente com o narrador. Podemos citar o James
Joyce como um escritor que revolucionaria a questão da narrativa no
romance.
Como assim, Rafael, você estava falando de Paulo Coelho e de repente
você vem com Joyce?
Meus queridos, ler “O Manuel do guerreiro da luz” não me
impediu de ler a saga de Leopold Bloom pelas ruas de Dublin.Tenho muita pena de
quem não faz ideia do que fala. Citarei Paulo Freire para explicar que pra mim
o Coelho é gênio. Segundo Freire, se você tiver várias obras deploráveis e uma obra genial sequer, você é um
gênio.
Qual é a do Coelho? Pra mim as parcerias com Raul. Além de se tornar no
mundo algo que nenhum escritor brasileiro será. O mundo de hoje é o do
espetáculo. E precisamos de pessoas como Paulo Coelho, mas no fundo... “O
vencedor está só”.
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