sábado, 2 de fevereiro de 2013

CAMINHOS SEM VOLTAS ou O CAOS DO CONHECIMENTO



Depois de um dia bastante difícil, problemas no trabalho, discussão com chefe, um final de semana que brigara com meu pai, minha mãe e todos que sempre me foram os mais caros, resolvi caminhar sem destino.

Sentei num banquinho à beira-mar, algo que não fazia desde tempos de garoto ingênuo que contemplava a natureza. Passei minhas mãos da nuca aos cabelos, pelo rosto, e, enfim olhei a imensidão oceânica, senti o vento no rosto, tentei acender um cigarro,  e após muito esforço consegui. Timidamente comecei a balbuciar algumas palavras, e de um momento a outro comecei a lutar com as lágrimas que teimavam em embaçar minha visão.

Humanamente, quando vemos alguém sofrendo queremos oferecer nosso ombro, mesmo correndo o risco de levar um fora ou algo parecido.

Um senhor, lembrando muito o meu avô, se aproximou de mim e disse que me ouviu perguntando a Deus, ou sabe-se lá quem, o porquê das coisas que te aconteciam se você fez tudo tão direitinho a vida toda. Que quando criança e adolescente era todo certinho, você só buscou estudar, conhecer, que era diferente de todos que conhecia.

Sem nenhuma timidez ele me perguntou: 
– O que o conhecimento trouxe pra você?

Não quis ser rude, mesmo querendo ficar a sós com meus pensamentos, respondi: 
– Muita coisa. Conheço desde humanas a exatas, busco entender o mundo e as pessoas. Embora admito, engatinho na campo dos conhecimentos.

Meu inquisidor retrucou com uma pergunta mais simples ainda: 
 – Você é feliz?

(Que pergunta era essa?)

Pensei, pensei, pensei e disse que só os ignorantes são felizes e infelizmente eu não caminho de braços dados com a prole.

Mais uma vez ele me perguntou: 
– Se você pudesse saber a verdade sobre todas as coisas e todas as pessoas você iria querer?

Falei como um garoto que acabara de ouvir do pai numa loja de brinquedos “escolha o que quiser”:

– COM CERTEZA! Quem não gostaria de ser onisciente?
Então, ele me disse:

– Meu caro, todo bônus tem um ônus. Everybody lies. Todo mundo mente. É a mentira que faz o universo fluir naturalmente. Como seria a sua vida se descobrisse que todos que dizem que te amam escondem coisas que acabaria com seus sentimentos mais nobres e puros? E se de repente você descobre que a morte é o fim, que não existe reencarnação, não tem nenhum paraíso, que histórias sobre fé, religião é tudo besteira?

Neste ponto comecei a me incomodar com a ideia. Mas a sede não passava. Defendia plenamente o desejo de saber mais e mais.

Ele fez uma pausa, respirou fundo e disse:

– Garoto, você é idiota? Você imagina o tamanho da dor que você está dizendo que quer sentir? Quer uma prova? Se eu te dissesse que sua primeira namorada é minha neta e que num dia de muita magia, você preparou uma noite inesquecível para a primeira vez de vocês. Mas e se eu te dissesse que não era a primeira vez dela, que ela amou outro antes de você, e poucos meses antes era ele quem estava na mente dela, e que possivelmente você foi a forma dela esquecê-lo, você iria querer saber?
Eu tossindo muito, querendo vomitar, puxando ar não sei de onde, mundo girando, coração altamente disparado. Lágrimas saltando dos olhos. Em meio a dor e raiva, bradei:

– Então eu devo aceitar que todos me fazem de idiota, que me contam mentiras, que minha felicidade é ilusão, que sou apenas mais um perdido na imensidão?

– Calma, garoto, eu nem disse nada. Nem neta eu tenho, mas se essa fosse a verdade veja o mal que isso ia te causar. Veja a dor. Talvez perca o sono, talvez perca a fome, talvez você perca você. Há sete bilhões de pessoas no mundo, a grande maioria delas tem fé, imagine como seria solitário só você ter certeza que Deus não existe e que uma simples bala tiraria sua vida e seus órgãos começariam a apodrecer e você viraria adubo. Sem céu, sem paraíso, sem 70 virgens, sem nirvana, nem a escuridão existe, não existe nada, assim como você. Você seria tal qual a barata esmagada por um chinelo sujo. Você está percebendo? Como você iria conseguir viver sua vida sabendo que todos que você ama te escondem alguma coisa, que toda sua felicidade pode ser uma ilusão e o pior é que quando você morrer acabou? Tem certeza que quer que Deus responda a todos os seus questionamentos? Mas se Deus não existe, não responde nada, então, cometer ou não o suicídio? Viver é um jogo de azar, você pode quebrar a banca ou quebrar a cara, a decisão é sua.

Totalmente destruído por dentro e já em prantos tentei falar em soluços:

– Estou morto, não tenho chão, tudo é cinzento, tenho medo. Sou apenas um garoto assustado, covarde.  Aquele que era a última opção, seja nas aulas de educação física, seja como amigo, seja como amor.

– E então, você gostaria de saber isso? Que seus amigos tinham amigos que preferiam a você? Que seus amores amaram mais e melhor que você? Todo mundo mente e mesmo assim você quer saber toda a verdade. É um caminho sem volta. Não tem volta. É só tormento. A frase é sua, não minha, “só os ignorantes são felizes”.

– Então como vou saber...?

– Desculpe, meu jovem, já interrompi seu cigarro e falei várias coisas me intrometendo, na sua vida. Mas, pela sua idade, posso te fazer uma pergunta, você conhece Sandman?

– Conheço.

– Então, você deve saber que Sandman ou Morpheus pensava muito depressivamente. Ele foi até ao inferno recuperar algo que era seu. Envolveu-se em muitos problemas até ter sua alma posta em xeque, entrando numa disputa com Coronzon, Excelso Duque do Oitavo Círculo, Capitão das Hordas de sua Alteza Belzebu. Numa luta sem armas, apenas palavras, mas de vida ou morte. É a mesma luta que você trava agora.  

Enquanto Coronzon - “Sou um lobo horrendo, um predador letal a espreita de sua presa”.
Morpheus - “Sou um caçador a cavalo, ataco o lobo com uma lança”.
Coronzon - “Sou uma mosca que pica o cavalo e derruba o caçador”.
Morpheus - “Sou uma aranha de oito patas devorando a mosca”.
Coronzon - “Sou uma cobra venenosa devorando a aranha”.
Morpheus - “Sou um búfalo de patas pesadas esmagando a cobra”.
Coronzon - “Sou o antraz, a bactéria carniceira, devorando a vida”.
Morpheus - “Sou um mundo flutuando no espaço, nutrindo a vida”.
Coronzon - “Sou uma nova explodindo, cremando planetas”.
Morpheus - “Sou o Universo, abrangendo todas as coisas, abraçando toda a vida”.
Coronzon - “Sou a antivida, a besta do julgamento, sou a escuridão no fim de tudo, o fim de universos, deuses, mundos, de tudo. Ssss. E agora, Lorde dos Sonhos, o que você é?”.

– Sabe filho, se você fosse meu neto, era isso que eu diria pra você. Não queira saber tudo. Viver é incerteza. Mas se você viver com medo você nunca viverá de verdade. Não estou dizendo pra você confiar plenamente nas pessoas. É natural não querer ser magoado. Seria perfeito se tudo fosse perfeito, mas isso é totalmente redundante. Muitas vezes não perdemos as pessoas, as pessoas são quem nos perde. Mas precisamos viver. E por mais que a gente tenha medo de tudo, precisamos continuar vivos. Coronzon é a escuridão no fim de tudo, o fim de universos, deuses, mundos, de tudo. Ele é o conhecimento evitável. Lembra o que Morpheus falou pra ganhar, não é? Ela é a resposta. O que Morpheus disse?

Ele disse: - “SOU A ESPERANÇA”.

"Se eu me sentir sozinho ou sair do caminho. E a dor vier de noite me assustar"

Um comentário:

Phenkil disse...

Puta que Pariu!!!!!
Que texto FODASTICO!!!!
Este texto mereceria algumas garrafas de vinho e pessoas para discuti-lo.
Parabéns Meu velho!!!!