Faz tempo que não escrevo muito. Logo, é um post pra quem curte Pensamentos Soltos de Uma Mente Noir.
Ideias me perturbam, pensamentos me incomodam, lembranças me consomem,
desejos me entorpecem, sentimentos me limitam.
Como é natural, a cada dia ficamos mais velhos, e envelhecer é um
processo arcaico. Em determinados momentos sentimos vergonha de nossas atitudes
do passado, mesmo que o passado tenha ocorrido dez minutos atrás.
Como é sabido por todos que gastam seu tempo lendo o que escrevo neste
humilde blog há quase cinco anos, sou um pensador do humano. O tipo que gosta
do lugar-comum da ontologia e da metafísica.
Na vida real isso não serve para nada ou quase nada. Tal qual toda a filosofia
e a poesia.
Fui professor dentre zil disciplinas, de filosofia e escrevo poesia (Quem não escreve hoje em
dia? É só ver a enxurrada de blogs sobre isso) desde sempre. Logo, posso falar com o mínimo
de conhecimento dessas áreas.
Sou historiador, pesquisador e faço mestrado em teoria literária,
estudo a literatura e a loucura, e tenho como um dos autores analisados o
escritor pernambucano Raimundo Carrero. Para Carrero construir uma obra poética é algo profundamente doloroso e inquietante.
Ocupa uma vida inteira com marcas e cicatrizes. Nem sempre oferece um bom
resultado, mas significa o sacrifício de uma existência. Não bastam apenas
palavras, versos e rimas. Vai muito além, muito mais. É preciso fazer a alma
sangrar. Significa entrar no abismo sem lanterna na mão. Nem uma só chama
indica o caminho. Ouvem-se gemidos, sussurros e risos soltos, às vezes
gargalhadas, muitas gargalhadas. O sentimento do humano dilacera mais do que
redime.
De fato, eu não definiria melhor. Acredito que por isso eu escreva,
seja romance, seja poesia. Estou longe de dizer que sou bom nisso. Muitas vezes
ao reler o que escrevo, penso: “meu deus, que merda é essa que eu escrevi?”. O
sentimento assemelha-se ao de uma pessoa ao reler seu diário de adolescente.
São todos sentimentos dilacerantes, tanta dor por tão pouco, tanta felicidade
por um olhar. Mas, como me fala Carrero, escrever
é como cortar os pulsos com uma gilete e deixar o sangue escorrendo veloz,
secando as veias.
Escrevo um monólogo-atentado-poético-filosófico desde 2006, chamado EU – A insustentável leveza de ser: VOCÊ.
Acredito que ele nunca ficará pronto, pois é
chato chegar a um objetivo num instante.
Em determinado ponto do livro questiono nossos possíveis
incômodos.
Tantos neurônios, tantos pensamentos...
Então, não queira.
“Toda dor brota do desejo de não querermos
sentir dor”.
Incompreensão. Introspecção. Incompreensão.
Seria interessante tirarmos Zaratustra,
Platão e todas as sombras de dentro da caverna.
Mas o que vem a ser a caverna?
Tem algo mais obscuro que sua própria mente?
Quantos universos cabem lá dentro?
Quantos seres a habitam?
Elfos, gnomos,
doendes, sacis, wookis, hulks, x-man, super-man.
Super-homem?
O super-homem de Nietzche, meu pai, filho de Júlio César. Super-homem.
Como diria Raul: E as perguntas
continuam. Sempre as mesmas. Quem eu sou? De onde venho? Aonde vou dar?
Hoje vejo que somos aquilo que falhamos em não ser. No entanto nos
acostumamos a isso e em determinados momentos pegamos um heterônimo de Fernando
Pessoa (Álvaro de Campos) e declamamos o Pecado
Original, viajando no mundo que poderia ter sido.
“Ah, quem
escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da Humanidade
O que há é só mundo verdadeiro, não é nós,
Só o mundo
O que não há somos nós, e toda a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!"
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da Humanidade
O que há é só mundo verdadeiro, não é nós,
Só o mundo
O que não há somos nós, e toda a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância?
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois?
Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas
Sobre o parapeito alto da janela de sacada,
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar.
Que é da minha realidade, que só tenho a vida?
Que é de mim, que sou só quem existo?
Quantos Césares fui!
Na alma, e com alguma verdade;
Na imaginação, e com alguma justiça;
Na inteligência, e com alguma razão —
Meu Deus! meu Deus! meu Deus!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!
Quantos Césares fui!"
No romance
histórico César de Allan Massie, há
uma passagem na qual o personagem Cato diz que o grande filósofo é um covarde
perante os duros imperativos da vida.
Hoje, eu, em
minha precoce crise da meia idade, teimo em concordar com ele. No entanto, não
existe tempo para muito, e, se a vida é feita de escolhas (sendo a própria
escolha uma ilusão ou não), devemos escolher aquilo que nos permite um sono
menos intranquilo.
Quanto à
frustração, ela sempre existirá.
“Quando tudo ainda é nada”
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