domingo, 12 de outubro de 2008

TIRANDO AS RODINHAS ou QUEDAS INEVITÁVEIS


A reflexão excessiva vem se tornando o ícone máximo da minha rotina. Porém, as soluções não brotam com tanta freqüência nas minhas galáxias neroniais quanto problemas.
Problemas sempre existiram e sempre existirão na vida de todas as pessoas. Contudo, não precisamos do “Acorda, Menino” de Ana Maria Braga para se tocar que precisamos fazer alguma coisa quando a vida não está muito bem.
Minha hora chegou. Devo admitir meus fracassos e tentar limpar meus machucados, seguindo em frente enquanto vida ainda tenho. Não sei e nem nunca soube trabalhar em equipe, minha arrogância excessiva limitaram toda e qualquer opinião alheia para o desenrolar de acontecimentos que estavam além das minhas capacidades. Devo desculpas a minha mulher, aos meus pais, a minha irmã, meus amigos, meus ex-colegas de trabalhos, meus ex-patrões, meus ex-sócios e meus ex-funcionários. Não tenho como corrigir os meus erros de outrora. Lamento e pagarei por eles. De alguma forma. Meu sofrimento, minhas noites de insônia, os foras e as lições de moral que levo cotidianamente, de alguma forma são maneiras de ser punido. Infelizmente as pessoas que amo e que convivem comigo sofrem ao meu lado. Mais uma vez eu sou punido, sendo responsabilizado pelas dores de quem enxuga as minhas lágrimas e escuta os gritos e urros que disparo insanamente.

A que isso me leva?
À solidão?
À depressão?
Ao suicídio?

Bem... Mais uma vez reflexão. O post que seria originalmente dedicado ao dia 12 de outubro terá que esperar. Os pensamentos noires que por hora escrevo estão clamando para saírem.
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Retornarei ao ano de 1986, tenho cinco anos incompletos, sou o orgulhoso dono de uma Monark Monareta vermelha com duas portentosas rodinhas (igual a da foto, sendo vermelha e com rodinhas), pedalando na supersônica velocidade permitida (pelos meus pais, é óbvio) pela calçada da minha bela Rua Eugênio Luciano de Mello, no Bairro Novo, Olinda – PE. E, como todos os meninos de qualquer bairro, eu tinha, ou melhor, tínhamos um líder, Chico, três anos mais velho que eu. Um herói para todos nós. O organizador das brincadeiras .
Certa vez Chico disse que não andaria na minha bicicleta por ter rodinhas, caso eu as tirasse ele andaria sem problemas. Mas como eu andaria sem rodinhas se eu mal me equilibrava com as mesmas? Um desafio astronômico para qualquer criança como eu. Mas, diferente do que sou hoje, o desafio não me pôs medo. Levei cabisbaixo minha bicicleta para o apartamento em que morava. Lá chegando, encaminhei-me para o quartinho da bagunça e peguei algumas ferramentas do meu pai, e tirei (contra a vontade da minha mãe) as rodinhas da minha bicicleta. Passando por cima da autoridade materna levei minha byke envenenada para baixo. Desafiante, subi no selim da minha virginal companheira. Tentei me equilibrar e o chão virou um amigo próximo. Inúmeros tombos feriram minhas pernas, mas... Por volta das 17h30min, quando a escuridão já se anunciava, a vitória não se fez de rogada e jogou-se em meus braços. Um grito de êxito saiu dos meus secos lábios:

MAINHA!!! MAINHA!!!
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Minha mãe na sacada da varanda, ao me avistar falou:

Meu filho, cuidado. Esse menino é danado.

Pouco tempo depois suas feições mudaram e o orgulho tomou conta do seu rosto. Seu menino danado aprendera sozinho a andar de bicicleta. Na realidade eu não aprendi sozinho. Aprendi com a inquisitória de Chico, com o fato de todos da minha rua já saberem pedalar sem rodinhas (embora mais velhos que eu), com o medo da minha mãe, com as minhas quedas e... Sobretudo... com minha determinação.

Caí! Inúmeras vezes na minha vida eu caí. Nenhuma queda foi fácil de levantar. Mas não as dores da queda e sim a vergonha proporcionada pelos tropeços o que mais incomoda. A maior dificuldade não é a derrota e sim assumir que o sucesso é passageiro. O sucesso foi o maior de todos os adversários que enfrentei. Ele me cegou e os conselhos recebidos ganharam como feedback um gostoso – FODA-SE!
Agora a vida me devolve os ultrajes cometidos por mim com um lindíssimo e sonoro:

- Hey, Teacher. Vai tomar no cu.
Mas não é apenas um “vai tomar no cu”. É um (por favor, perdoem-me pela grosseria pornográfica a seguir)
– Filho de uma puta safada vá tomar no olho do seu cu, caralho!!!

Essa doeu em mim abissalmente. Mas... Consegui ultrapassar dificuldades sem precedentes. Ainda estou vivo e dentro de mim ainda existe um garoto que não se deixará abater pelas dificuldades apresentadas. O problema é que não sei direito em que lugar de mim ele está escondido. Mas ele não me deixará na mão, assim como as pessoas que ao meu lado estão nesse momento em que o selim acolchoado da minha bicicleta não existe mais.

"Quando chega a noite e você pode chorar. Há uma luz no túnel dos desesperados. Há um cais de porto pra quem precisa chegar."

Um comentário:

Unknown disse...

Disso eu não tenho duvida, acredito hj que pode e como vc pode sair dessa e eu estarei aqui é só olhar do lado.