quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

UM NOIR EM CASABLANCA ou BRAZILIAN SEXY’S GIRLS

Sem muito sangue na veia e sedento de inspiração e emoção, mergulhei-me nos livros dos meus autores preferidos. Eu tinha acabado de ler Los Angeles: Cidade Proibida de James Elroy quando tive a idéia de viajar para os Estados Unidos. Estava com uma necessidade ímpar de ver e viver os aspectos noires daquele agitado, moderno e avançado país, sobretudo nos ambientes onde as transpirações da boemia latina ainda mantinham a chama viva sessenta anos depois do boom do jazz bebop de Miles Davis, Charlie Parker e John Coltrane.
Não existiam mais bares clássicos como o Copacabana, mas as brasileiras ainda estavam por lá (a maioria entrando ilegalmente cheias de sonhos de dinheiro fácil e marido rico). As bundas mais empinadas de todo o universo, as coxas mais torneadas e os bronzeados mais excitantes (exceto o dela, que gostava da sua pele branca, leitosa, transparecendo uma pureza que contrastava com seus pecaminosos pensamentos). Não fora a primeira vez que avistara aquelas belas coxas, entretanto, era a primeira vez que a consumia com uma luxúria desenfreada.
Quando eu a conheci ela já era uma ninfa dionisíaca que rebolava freneticamente ao som dos bate-estacas das músicas techno (anos-luz do meu refinado gosto musical), freqüentemente cercada por anabolisados de cérebros atrofiados nas raves itinerantes que rolavam nas históricas ruas da Ilha de Antonio Vaz.
Meu interesse naqueles lugares estava longe de ser a pura diversão, mas dificilmente minha noite terminava sem uma suada trepada de canto de muro. Para um escritor Tin Tin a investigação faz parte da inspiração. E meu desejo sublime era entender as loucuras que o ecstase provocava em educadas mocinhas de família. Tomei partido na luta para destruir toda e qualquer quadrilha inescrupulosa ao descobrir minha irmã caçula como uma viciada, prostituindo-se por prazer, o prazer da balinha rosa. Eu mesmo me encarreguei de acabar com o bandido que colocara minha irmãzinha nesta bandida vida. Matei o canalha do seu fornecedor, um traficantezinho de classe média alta, com um simples canivete. Enfiei-o em seu pescoço enquanto uma garota de aproximadamente 15 anos chupava-lhe o pau, provavelmente em troca da mal-falada balinha.
Nunca tive pena de tipinhos como esse. Imbecis que se travestem de playboys para sustentar seus vícios e suas poses de gatões. Infelizmente não consegui salvar minha irmã dessa vida. Encontrei-a nua em um banheiro químico sujo de vômito dias depois. O laudo do legista indicava que ela teve overdose de inúmeras drogas. Mas sempre culpei o ecstase. Ele foi sua porta de entrada. Porém, era a giratória porta de uma roleta russa. Nunca mais fui o mesmo. A imagem sem vida da garota de 18 anos que eu criara como um pai foi demais pra mim.
Nunca fui careta, mas bani as drogas da minha vida quando eu tornei seu uso banal. O ópio, o haxixe e até mesmo a maconha sempre me ajudaram a colocar cores nas histórias que eu criava. A vodka, o vinho e o whisky também sempre foram o meu todynho, fiel companheiro de aventuras, desde meus remotos 15 anos, haja vista o meu envelhecimento precoce.

Todos os devaneios imagináveis e até mesmo inimagináveis vieram em minha mente quando adentrei o Brazilian Sexy’s Girls, localizado em um bairro underground de Manhattan em Nova York. Deliciosas garotas com idade de 18 a 28 anos remexendo seus voluptuosos corpos, com toda sensualidade que uma nativa da região sul do Equador pode ter.
Pedi uma dose dupla de Jack Daniel’s sem gelo e acendi um charuto cubano (o único cubano bem vindo fora a bunda da Vida Guerra) e assisti tranqüilamente as chicas brasileñas, ou melhor, as brazilian girls rebolar de micro-shorts, meia arrastão e salto alto com toda desenvoltura em cima do balcão onde solteiros e casados voyeur buscavam diversão.
Mãos... Coxas... Mãos... Bunda... Mãos que passavam em todas as partes das dançarinas. Mãos cerradas dos leões-de-chácara esmurrando os afoitos freqüentadores. Simples cotidiano do dançante bar. Eu, no meu canto, sacava um lance de mansinho, enquanto uma garota se abaixava no lado de dentro do balcão abrindo as asas buscando voar no momento que aspirava seu pó de pirlimpimpim. Triste e comum cena. Nada que surpreendesse um escritor noir. Pra representar melhor o século XXI faltavam apenas umas vampiras fazendo blowjob e os tiros de metralhadores do Quentin Tarantino.
A moça que consumia nasalmente seu alucinante pólen era minha outrora conhecida, a anteriormente denominada como ninfa dionisíaca, agora um pouco mais velha e mais conhecedora do mundo, o que não garantia, entretanto, uma maturidade digna de Hannah Arendt ou Simone Beauvoir. Ela era linda mesmo drogada. Seus longos e brilhantes cabelos pretos davam uma bela moldura para seu branco e perfeito rosto. Suas coxas grossas, malhadas, indicavam que horas de repetitivo e cansativo exercício físico fazia parte dos seus parcos e sadios hábitos. Sua minúscula roupa deixava transparecer três estrelinhas tatuadas em sua cintura, bem como um reluzente piercing de prata com brilhante. Vendo que eu presenciara toda a cena de seu desenfreado consumo, ela calmamente dirigiu-se a mim, fitando-me com um olhar ora sexy, ora intimidador, perguntou em um inglês enrolado: “Can I help you?”. Eu, inebriado com seu perfume, só tinha em mente a música Preconceito do Cazuza (“Por que você me olha com esses olhos de loucura? / Por que você diz meu nome? / Por que você me procura?”). Vagarosamente balbuciei como um virgem garoto de 14 anos: “Pode falar português”. Ela riu uma gostosa gargalhada e disse: “Mais um brasileiro nessa porcaria de bar... Já que você está aqui me pague algo para beber”.
Ela deu uma curta pausa, enquanto nos servia mais uma dose de Jack, encarou-me falando: “Trate de deixar seus dólares e seu pau longe de mim, pois não sou do tipo de garota que vem pra os Estados Unidos ser puta... muito menos de um brasileiro com pinta de Humphrey Bogart dos trópicos”.
Não falei nada enquanto bebemos, apenas ouvi as loucuras que aquela bela mulher tinha a dizer. A maioria das coisas não valia uma linha do meu singelo relato. A única que coisa que prestei atenção foi o nome que ela adotara ao chegar ilegalmente na terra dos Bush... Nina Simone.
Ela não fazia idéia de quem havia sido Nina Simone, só tinha ouvido uma música versão mixada em formado techno-dançante por esses DJ’s da moda (Tiesto, acredito, se a minha mente consumida por antidepressivos e bebida destilada não estiver me traindo) numa rave e gostou do nome, sobretudo, por parecer um nome latino.
Convidei Nina para sair daquele ambiente e caminhamos até a ponte que liga Manhattan ao Brooklyn. Ela subiu na famosa ponte do Brooklyn e perguntou com um sorriso sacana se eu pularia atrás dela se ela se jogasse. Ri desconfiado e mordi a ponta de um cigarro que comprara no bar (vício re-adquirido desde a morte precoce da minha irmã). Puxei-a pelo braço e disse: “Garota, você não devia brincar com algo que vale mais que 15 gramas de coca”. Ela fez cara de raiva por não ter gostado do comentário irônico feito por mim e em seguida cantarolou “Cocaine” de Eric Clapton, desfazendo-se das feições arredias.

– Escute aqui, meu filho, sou baixinha, mas sou poderosa - disse-me Nina sem mais nem porque – Tá vendo minhas pernas aqui, homens matariam só pra pôr as mãos nela, mas gosto de homens gentis e educados, de preferência com dinheiro pra comprar as melhores maquiagens e scarpins pra mim... Veja meus lábios... Quantas mulheres você beijou que tem a boca como a minha? Quantas realizaram seus sonhos mais tenazes colocando a boca em seu... (Nina, meio cambaleando com seus scarpins na mão, soltando os sapatos no chão e colocando parte do meu corpo em suas delicadas mãos, enrijecendo-o. Concluindo, nesse momento, a sua pergunta) ... grande, duro e grosso pau?
Enfaticamente a respondi:
– Pensei que você não fosse uma bitch, little girl. Comporta-se como uma.
– Sabe o que é meu bom Richard Blane? Seu ar intelectual me deixa extremamente excitada. A inteligência é afrodisíaca para mim.
– Nunca imaginei que uma garota como você tivesse assistido Casablanca e/ou ainda por cima desse valor a esse ponto tão peculiar do ser humano – a inteligência.
– O que você faz? Você não tem cara de advogado ou professor universitário!
– De fato. Sou um reles escritor barato. Um intelectual chato, sem sucesso e com ínfimos amigos.
– Você não tem mulher ou filhos?
– Homens como eu não podem se dar ao luxo de ter pessoas que o esperem para jantar. Pois posso não voltar. Tenho alguns inimigos. Pessoas que adorariam ver meus olhos verterem algum tipo de liquido, sejam lágrimas ou sangue.
– Nossa! Quanto mistério! O que você veio fazer na terra do Uncle Sam?
– Pensando bem, vim atrás de você.
– De mim? Como assim? Você nem me conhece.
– Vim atrás de inspiração, de boemia, de mulheres atraentes...
– De sexo?!
– Sexo sempre está nos meus planos. Sou o novo Sade. (Risos)
– Gostaria de fazer sexo na ponte do Brooklyn? (Fazendo um olhar sensual e mordendo o lábio inferior)
– Com você faria até no topo do Empire State Building.

Nina riu e rebolou tirando seu short, deixando a mostra uma calcinha fio-dental branca com o coelhinho da playboy em alto-relevo. Em seguida tirou o top amarelo que usava, oferendo seus siliconados seios rosados para serem chupados. Deleitei-me com eles. Beijei ferozmente Nina. Seus elogiados “lips” eram meus. Nina ajoelhou-se e fez realmente o que eu tão tenazmente sonhara... o melhor blowjob da minha vida. Obviamente não resisti muito tempo, inundando seus carnudos e angelinos lábios com a mais pura expressão do meu orgasmo. Nina engoliu, me encarou e sorriu.

– Homens como você tem estoque pra no mínimo três mulheres. Então, tome-me como sua – ordenou Nina.

Abracei-me em suas coxas torneadas, colocando meu rosto em seu depilado centro, beijando, lambendo e chupando, fazendo a minha bela ninfa, agora musa, delirar com minha grande e famosa língua. Finalmente a penetrei, alternando estocadas lentas e aceleradas, culminado com nosso mútuo gozo.

A tão comentada e mundialmente famosa The Brooklyn Bridge fora batizada de uma forma voraz por um escritor noir do nordeste brasileiro. Então, adormeci.

Como se tivesse sido bruscamente acordado dos mais dignos dos sonos, procurei por Nina e não a encontrei. Desesperado olhei para todos os lados e vi escrito de batom em minha camisa que estava jogada no chão.

A história não tivemos. Mas o final é sempre o mesmo”.

Fiquei desnorteado e corri sem rumo atrás de Nina pela ponte do Brooklyn. Fazia tão pouco tempo que estivera em meus braços. Ela não podia ter desaparecido assim. Nem entendo também como apaguei a ponto de não vê-la sair. Deve ter sido o êxtase. O mais puro êxtase da Nina.
Decidi voltar ao Brazilian Sexy’s Girls para saber se alguém tinha notícias de Nina Simone, da minha Nina Simone. Ninguém me deu nenhuma informação. Quando estava prestes a sair do bar, uma linda e sexy dançarina veio correndo e me deu um pacote muito mal embrulhado escrito em cima de forma disforme “Abra no Brasil”.

De volta ao Brasil abri meu pacote, era um dvd de Casablanca. Fiquei meio sem-chão. Nunca imaginei que uma dançarina que julgara ser um poço raso tivesse uma mente tão doce e criativa. Provavelmente Nina escondera-se no bar, pedindo que ninguém falasse de sua presença, dando razão para suas frases em lipstick.

A história não tivemos. Mas o final é sempre o mesmo”.


Só posso pedir para Sam tocar e cantar, então – AS TIME GOES BY.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom, mas ainda prefiro Capitu, adorei aquele!

alexandre disse...

Rafa parabéns meio rodriguiano más de bom e bem refinado. Continue assim. Agora esta na hora de criar o meu. um Abraço ululante.