sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

DOIS PROBLEMAS ou PRA QUEM AINDA NÃO LEU



'Caro Raul,


Mais uma vez estou sentado em frente ao computador perdido em meus pensamentos noires tão teus. Acontece, caro amigo, que fui acometido de uma profunda amnésia, pior que aquela presente no filme ‘Memento’ dirigido por Cristopher Nolan em 2000. Embora Leonard estivesse desesperado no filme e não soubesse quem eram seus amigos, inimigos e a verdade que o movia, ele sabia o que buscava. Eu nem isso sei.


Sobre o que falava os livros de James Joyce? Como eram mesmo os conflitos psicológicos presentes nos livros de Dostoiévski? E o modo de enxergar o mundo que Machado tinha, como era? Não lembro mais nada de Nietzche. Estou perdido.
Sem dúvida acho que esqueci disso tudo quando me perdi nos ‘Diálogos’ de Platão, ou será que foi depois que li o ‘Manifesto Comunista’ de Marx? Com certeza não. Isso eu já havia esquecido depois dos ‘Paraísos Artificiais’ de Baudelaire.


Sinto-me tão só, meu amigo. Passo horas assistindo filmes de ficção científica – ‘Blade Runner’; ‘Inteligência Artificial’; ‘Eu, Robô’; ‘Controle Absoluto’; ‘2001 – Uma Odisséia no Espaço’; ‘Star Wars’, as duas trilogias e os desenhos das ‘Guerras Clônicas’ também; ‘Matrix’, então, nem se fala, já decorei todos as falas do ‘Mr. Anderson’, perdão… ‘My name is Neo’.


As coisas estão assim, meu guru. Queria poder te dizer mais, mas estão batendo na minha porta agora e preciso atender.


Até breve e abraços.’

– Pois não!
– Estou procurando o Sr. Rafael?
– Da parte de quem?
– Eu tenho um telegrama urgente para ele.
– Entregue a mim. O senhor está falando com ele.
– Assine aqui, por favor.
– Obrigado.
– Obrigado ao senhor.

Prezado Sr. Rafael…”

Com certeza, vem problema. “Prezado num-sei-que-lá” é estresse com certeza.

“… verificamos em nossos registros que o senhor está negativado em mais de quinze instituições por falta de pagamento aos empréstimos junto a bancos, a cartão de crédito, à financeira…”

NEGATIVADO”??? O que é isso? Me baniram do sistema? Não existo mais, é isso? Estou devendo umas contas, eu sei. Mas perdi meu emprego, minha empresa faliu. O que eu posso fazer? É a crise mundial.

Sinceramente eu não aguento mais tanta mediocridade. Essa vida cheia de infortúnios e mundanismos. Se o simples fato de existir nesse competitivo mundo não fosse o bastante, aparece uma novíssima fobia a cada dia. Provavelmente a mais recente é a fobia do desemprego. Admito, sou portador de inúmeras fobias e essa é a minha mais nova aquisição. Durante toda a minha vida acreditei que apenas com os estudos chegava-se a algum lugar e ser-se-ia alguém. Infelizmente eu estava quadrada e redondamente enganado. Não apenas eu, mas todas as pessoas que falam isso cotidianamente. Estudei numa escola daquelas que se importa com o IAV, o Índice de Aprovação no Vestibular, a síntese do massacre estudantil que anualmente glorificam e frustram inúmeros jovens e velhos estudantes que almejam um lugar ao sol, sobretudo numa universidade pública.

Ah, que pena! Quanta ilusão. Quem disse que entrar numa universidade é sinônimo de emprego garantido? Quem disse que estudar numa universidade pública é um enriquecedor curricular? Quem disse que iremos ser realmente quem gostaríamos de ser quando éramos crianças? Quem disse que seremos profissionais realizados? Quem disse tudo isso? Realmente eu não sei. Mas de uma coisa eu tenho certeza… Eu quero matar meu orientador vocacional, ele era uma fraude.

Quer saber?! “Eu também vou reclamar”, ou melhor, vou escutar Raul que é o melhor que eu faço.

Dois problemas se misturam
A verdade do Universo
A prestação que vai vencer
Entro com a garrafa
De bebida enrustida
Porque minha mulher
Não pode ver


Olhos os livros
Na minha estante
Que nada dizem
De importante
Servem só pra quem
Não sabe ler


E as perguntas continuam
Sempre as mesmas
Quem eu sou?
Da onde venho?
E aonde vou dá?


E todo mundo explica tudo
Como a luz acende
Como um avião pode voar
Ao meu lado um dicionário
Cheio de palavras
Que eu sei que nunca vou usar


Mas agora eu também resolvi
Dar uma queixadinha
Porque eu sou um rapaz
Latino-americano
Que também sabe
Se lamentar


E sendo nuvem passageira
Não me leva nem à beira
Disso tudo
Que eu quero chegar
-E fim de papo!”

Sem dúvidas, meu amigo Raul. Só você me entende. É assim que eu me sinto. Embora a sua queixa tenha sido feita há trinta anos e eu nem sonhara em vir ao mundo. Mas… “A coisa tá assim”. Ou filmes ou livros. Embora algumas vezes eu não entenda NADA que está escrito. Tem coisas que se apresentam com tal incongruência inexorável que só um ortodoxo ou um douto na arte de desmistificar a hermenêutica da filosofia metafísica seria capaz de entender a própria cosmogonia universal a luz do racionalismo druida ou oráculo de civilizações desaparecidas antes do armagedon ou qualquer escatologia apocalíptica nos idos tempos onde à etimologia das palavras não tinham tanta importância quanto à explicação do zeitgeist de Johan Herder ou Georg Hegel muito antes da Crise da Razão Histórica e quiçá do Fim da História.

Como diria a minha irmã – “CULTURA INÚTIL!”.

E olhem que eu nem disse nada. Poderia muito bem partir da Teoria dos Sistemas para a Teoria do Caos, passando pelos Simulacros de Jean Baudrillard, enganando o diabo de Goeth antes que os satanistas laveyanistas me convencessem que o dogmatismo deles era mais plausível que o ceticismo e que nenhuma ciência cognitiva me explicaria melhor o mundo como vontade e representação de um pessimista como Schopenhaur ou como um trágico como Nietzche, muito embora Deus estivesse morto, “assim falou Zarathustra”. Se for mentira é dele e não minha. Isso porque me perdi no primeiro paradigma ontológico (não antológico) da realidade semiótica ora exposta, visto que tudo que fora exposto anteriormente serem bem mais amplos que o holismo aristotélico.

UFA! Sabe de uma coisa?! As coisas são bem mais fáceis quando não pensamos em nada. Eu não tenho dinheiro pra nada mesmo. A verdade do universo ninguém sabe também. Então, vou assistir Backyardigans que pelo menos me distrai.

Um comentário:

AMARela Cavalcanti disse...

oi, querido amigo blogueiro!
li teu post e fiquei muito feliz por saber que compartilhas da mesma admiração que eu pelas 5 criaturas que desejam chegar à cidade das esmeraldas.
a roda é sempre viva e ela sempre gira e, numa dessas giradas, ela nos leva ao encontro da trupe de óz...

beijos!